Manuel Machado: “Não haver época seria a falência do futebol”



O presidente da Associação de Futebol de Braga entende que se a temporada 2020/2021 não começar será a falência do futebol distrital.
Numa entrevista publicada na edição desta semana do jornal DESPORTIVO de Guimarães, Manuel Machado defende que estão reunidas as condições para que os campeonatos arranquem nas datas que foram estipuladas recentemente.

Enquanto Presidente da A.F. Braga entende que, nesta altura, o adiamento do início das provas foi a medida mais aconselhável?: "Acho que sim, até porque os actuais valores da pandemia vieram dar-nos razão e há clubes que até queriam um adiamento maior. Fizemos três reuniões e, nomeadamente no Pró Nacional, havia clubes que queriam começar só em Janeiro, terminando o campeonato em Agosto, o que não é possível. Oxalá que em Junho ou Julho de 2021 esteja tudo limpo de Covid, para que comecemos a ter épocas normais. Fomos os primeiros a terminar as provas da época passada, sabendo que podia haver problemas, e agora somos os últimos a começar. Há outras Associações que elogiam a nossa por começarmos mais tarde, mas se fosse em Janeiro teríamos que fazer um formato diferente das competições, com séries mais pequenas".

Mais importante do que tudo será jogar em segurança?: "A saúde e a vida estão em primeiro lugar. Já sensibilizámos os clubes para terem cuidado com as regras sanitárias, porque o vírus está aí mas temos que nos antecipar, aprender a conviver com ele. Essa antecipação requer responsabilidade de toda a gente e acho que o futebol até está a ser discriminado em relação a outras actividades, nomeadamente culturais".

Consegue entender essa discriminação?: "Não entendo. A Direcção Geral de Saúde e o IPDJ estão a passar um atestado de menoridade aos dirigentes desportivos".

E isso acontece por falta de sensibilidade ou por falta de conhecimento?: "Se calhar pelas duas coisas, ou então o futebol não lhes diz nada. Esquecem-se que o futebol representa para o Governo 3% do PIB, excluindo as muitas empresas que vivem dele. Nós tivemos, desde logo, o cuidado de perceber quais iam ser as dificuldades dos clubes em termos financeiros e atribuímos um valor aproximadamente de 260 mil euros para apoios. Reduzimos nos seniores 40% do valor das inscrições, na formação 60% e no futsal e futebol feminino 100%. Só na filiação que deixam de pagar são 70 mil euros. Claro que há sempre algumas dificuldades no cumprimento integral das regras de segurança que foram definidas, mas eu pergunto se as escolas as cumprem integralmente, nomeadamente no que diz respeito ao distanciamento social... No entanto, o ensino começou. Tem que haver ideias para criar barreiras sanitárias no Desporto e estamos preocupados com tudo isso, mas devem entender que já perdemos uma época e não podemos perder outra".

Ainda que tudo seja muito imprevisível, é absolutamente insuportável a ideia de que não haverá temporada?: "Insuportável para o Futebol Distrital e até para a Liga. Isso seria a falência do futebol. Nesse caso, as receitas que deixam de existir não são apenas as dos adeptos. São as corporate, os camarotes, os lugares anuais... Indiscutivelmente, a saúde e a vida estão em primeiro lugar, mas se o País parar entramos em colapso e morremos da cura. A Federação tem de tomar uma posição junto do IPDJ: digam quais são as regras porque no Distrital vemos jogos com 100 ou 150 pessoas. A não ser que seja um dérbi. Se pusermos 50%, estamos a falar de 75 pessoas. Dizem que o adepto do futebol tem comportamentos diferentes das outras actividades, mas ninguém quer correr riscos de apanhar o Covid".

Qual é a proposta que a A.F. Braga tem para o regresso do público?: "Tenho algum optimismo que em meados de Outubro já possa haver público nos estádios. A Liga vai criar uma pressão enorme. E havendo espectadores na Liga, não há forma de não haver no Futebol Distrital. Precisamos de saber qual a percentagem de espectadores e os nossos dirigentes vão cumprir as regras".

No Distrital qual seria a percentagem inicial aceitável?: "Entre 50 a 60%, atendendo aos números em circunstâncias normais. Por enquanto, como não há público também não há necessidade de termos agentes de segurança, o que representará menos uma despesa para os clubes. Estamos a fazer tudo no sentido de ajudar os clubes, como é nossa obrigação, nomeadamente no que diz respeito às regras de segurança".


quinta, 24 setembro 2020 08:58 em Desporto

Marcações: Associação de Futebol de Braga, Manuel Machado

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