Diogo Leite Ribeiro: "Com menos o Xico Andebol conseguiu fazer mais"

Num passado recente, não há exemplo de o Xico Andebol conseguir alcançar um capital próprio. Como é que foi possível chegar a este ponto?: "É um trabalho de três anos. Isto não é de um dia para o outro. Fizemos planos, reestruturámos a dívida e, acima de tudo, aquilo que nós assumimos, cumprimos. É uma realidade que queremos deixar para o futuro, que seja a pedra de toque. Temos de ser zelosos e cumprir com este plano. É um trabalho diário de ajustar a despesa à receita, porque não podemos trabalhar com receitas hipotéticas e extraordinárias. Sabemos aquilo que é certo: a quotização dos sócios, os parceiros patrocinadores e ainda algum apoio público que, ainda assim, se pegarmos nas contas do último triénio, é menor. Nós com menos, conseguimos fazer mais. Agora, não podemos entrar em loucuras e investimentos desmedidos por forma a desequilibrar toda esta estrutura. Não podemos ter um clube que vai uma época à primeira divisão e regressa muito pior do que estava antes. O andebol está muito caro em Portugal. Temos três andamentos: os ditos clubes grandes, que tÊm orçamentos de milhões e, portanto, quem jogar na primeira divisão sabe que contra esses três clubes não consegue competir. Há um segundo grupo que é apoiado pelas autarquias locais e pelo Governo Regional (caso dos clubes das ilhas). Depois há um grupo inferior que, basicamente, estão sempre a subir e a descer. Subir de divisão implica um duplicar do orçamento. Isto tem de ser devidamente ponderado".

Tudo isto acaba por rebater a ideia de que o Xico era insustentável?: "Com muito trabalho, tudo é possível. Nós temos os nossos atletas que não recebem qualquer gratificação, é uma realidade totalmente diferente das outras modalidades. Temos um empenho ao nível da formação que recebem pequenas comparticipações. Isto tem de ser explicado às pessoas e elas têm de perceber que um clube com esta dimensão e importância para Guimarães, vai chegar a uma altura em que também tem de partir para outro patamar, até porque a exigência é cada vez maior, quer interna ou externa. Agora, que tem de ser um clube cumpridor e zeloso, não há qualquer dúvida. Não vale a pena arrancarmos com projectos que temos em carteira se não tivermos a certeza de que os podemos cumprir. O plano está delineado. O equilíbrio é sempre possível desde que haja o casar entre as receitas e as despesas".

Do ponto de vista dos apoios, as coisas mudaram nos últimos três anos?: "A Câmara tem uma política que eu não defendo. É uma política muito focada no futebol. Temos de defender as igualdades de oportunidades, mas isto tem de ser passado para o papel. Somos o único clube que tem três equipas a competir nos campeonatos nacionais. Qual é o desporto colectivo que, em Guimarães, consegue ter atletas formados na selecção nacional? É uma história de um clube de 60 anos dedicado ao andebol. É preciso reconhecer isto. Hoje em dia, temos uma bandeira que é o Rui Silva. Temos o Edu na selecção de sub-17, o Zé Paulo há dois anos nos sub-19… Na nossa equipa feminina, temos formação para competir na segunda divisão. A nossa equipa B, neste momento está no segundo lugar da terceira divisão. Este trabalho deve ser premiado, em vez de seguirmos a política só de relvados".

Apesar dessa resistência, há uma maior consciencialização em termos políticos?: "Acima de tudo, acho que há mais um dever de lealdade, uma transparência e facilidade de contacto. Nesse aspecto, o Vereador do Desporto é impecável, temos uma relação especial com o Ricardo Costa. Tivemos também um plano com a Adelina Paula de levar o andebol às escolas, embora seja um projecto que esteja parado há um ano, mas que deve ser retomado. A autarquia de Fafe dá um apoio ao andebol de Fafe muito superior ao que a de Guimarães nos dá. Se formos analisar os apoios aos clubes locais, claramente que o Xico fica a perder".

Com toda esta estabilidade que o Xico apresenta, até parece um pouco contrasenso que o seu Presidente esteja de saída.: "Eu nunca tive a ambição de ser Presidente do Xico, fui desafiado por um grupo de amigos no sentido de encabeçar este projecto. O pressuposto inicial foi: “muito bem, eu estou disposto a abdicar do meu tempo profissional e familiar por um tempo limitado. Na altura e se recordarem, eu disse que vinha para um projecto para dois anos. Este trabalho, para além de ser diário, é desgastante. Se nós aplicarmos as nossas competências e o nosso saber com o mesmo rigor e seriedade, naturalmente que os resultados têm de aparecer. No ano passado, a nossa equipa sénior estava a fazer uma fase final fulgurante, mas fomos interrompidos. E foi nesse sentido que decidi prolongar o mandato por mais um ano. Há que encontrar alguém que possa continuar todo este trabalho. As pessoas têm de ter este espírito de, da mesma forma que abraçam estes projectos, poder sair pelo seu próprio pé. Se nós defendemos que nas instituições deverá haver limitação de mandatos, porque não quando as próprias pessoas, quando já fizeram muito do que se propuseram, sair e dar oportunidade a outros?"

E, aparentemente, a solução está garantida.: "Felizmente a equipa é muito coesa. Isto foi o chamar de atenção na última Assembleia. Aquilo que eu fiz junto dos meus colegas de direcção foi de ver quem estava disponível. Houve alguns membros da direcção que se mostraram disponíveis para continuar e, nesse aspecto, será encontrada uma solução de continuar este trabalho. Nesse aspecto, o Mauro Fernandes deu essa indicação de que estaria disponível".

No seu entendimento, será uma excelente solução?: "Seguramente. Em primeiro lugar, reconheço-lhe desde logo competências. Em segundo, pelo trabalho que tem vindo a desenvolver ao nível da formação. Claro que, agora, as funções que terão de ser exercidas serão outras. A responsabilidade é maior, visto que o rosto de toda uma estrutura, para o bem ou para o mal, acaba por ser sempre o Presidente. Mas atenção, pode sempre aparecer alguém que diz ter melhores ideias ou melhor projecto. Os sócios é que, depois, serão soberanos numas possíveis eleições. Se num passado recente havia dificuldade em encontrar pessoas capazes de pegar nesta estrutura e neste clube, agora parece-me que não. Isso é um motivo de grande registo".


Marcações: Xico Andebol, Diogo Leite Ribeiro

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