Homenagem ao 25 de Abril

Comemora-se hoje, Quarta-feira, dia em que é publicado este número de “O Comércio de Guimarães”, o 44º aniversário do 25 de Abril, “A Revolução dos Cravos”, importante marco histórico do século XX que assinala o fim do regime político instaurado em Portugal por Oliveira Salazar no seguimento do movimento do 28 de Maio de 1926 que, comandado pelo Marechal Gomes da Costa a partir de Braga, pôs fim ao período negro da nossa história que se seguiu à implantação da República em 5 Outubro de 1910.

 

Para mim, que nasci em Julho de 1952, a tomada de consciência da limitação da liberdade ocorreu apenas na universidade, no Porto, em 1970, vivendo os primeiros passos da reforma do ensino superior promovida pelo ministro Veiga Simão o qual, na altura, tentava acalmar as ondas de contestação dos estudantes portugueses ocorridas em conexão com explosão das tensões sociais em toda europa, sobretudo em França, com o Maio de 68 em Paris.

Não tendo embora integrado os principais grupos de estudantes contestatários da falta de liberdade e democracia nas universidades, não pude ficar indiferente à forma como éramos impedidos de exercer os mais simples e elementares direitos de cidadania.

As reuniões gerais de alunos eram proibidas e lembro-me de no decurso de uma delas, após a invasão da polícia, ter sido obrigado a refugiar-me no sótão da Faculdade Ciências de onde pude apenas sair à noite com a Praça dos Leões cercada ainda pela polícia.

Mas, se para mim e para muitos da minha geração o principal problema se colocava na falta de liberdade, para a grande maioria da população o grande problema tinha a ver com as condições gerais de vida a que o regime, fechado ao mundo e defensor da política do “orgulhosamente sós”, condenava o seu povo, conduzindo-o ao atrofiamento económico, social e cultural, deixando-se ultrapassar pelos países europeus destruídos pelas duas grandes guerras.

As dificuldades e a miséria, bem visíveis na cara das pessoas, empurraram para a emigração centenas de milhares de nossos concidadãos, sobretudo para França e para a Alemanha, que vinham apenas celebrar o Natal com a família e, uns anos mais tarde, com a vida já estabilizada, no Verão, para o gozo de um período de férias mais prolongado.

Só uns anos depois, a partir de 1960, com entrada de Portugal na EFTA, se foi começando a sentir um certo arejamento da vida económica do país, com o aparecimento de grandes fábricas, sobretudo confecções, aqui na nossa região, que conseguiram acessos sem constrangimentos alfandegários aos principais mercados europeus.

Para a juventude em particular, outra grande preocupação ameaçava o sonho da construção do futuro. A guerra colonial. Era como que uma ponte estreita e perigosa a atravessar um longo e profundo precipício. Só se pedia que o destino não fosse a Guiné de onde uma elevada percentagem de soldados não regressava com vida.

Muitas foram as famílias destroçadas ao ver seus filhos mortos numa guerra incompreensível. Uma teimosa guerra contra os ventos da história da libertação dos povos.

Essa guerra, que haveria de constituir o principal rastilho de detonação da Revolução de Abril, foi minando as Forças Armadas sendo, em Fevereiro de 74, publicado o livro “Portugal e o Futuro”, expressão do pensamento de várias patentes militares e subscrito pelo General António de Spínola, defendendo uma solução política e não militar para a Guerra do Ultramar.

No mês seguinte, em Março, aconteceu a primeira tentativa de sublevação das forças Armadas conhecida como “Movimento das Caldas”, apenas travado à entrada de Lisboa.

Nos dias seguintes sucederam-se várias iniciativas que indiciavam claramente o fim do regime, tal como aquela manifestação de lealdade dos oficiais-generais ao presidente do conselho ministros, Marcelo Caetano, que ficou para a história conhecida como “Brigada do Reumático”.

Finalmente, na madrugada do dia 25 Abril, deu-se o “Movimento dos Capitães” que, decepando os principais órgãos do poder instituído, abriu caminho para a saída do povo para as ruas apoiando e aclamando de modo vigoroso o regime da Liberdade cantando “uma gaivota voava, voava ... Somos livres ... somos livres de voar”.

Era chegado o momento da construção do sonho dos três dês - Democracia, Descolonização e Desenvolvimento.

Quarenta e quatro anos depois desta data histórica, presto aqui singela homenagem a todos aqueles que, ao longo de mais de quatro décadas, se bateram na luta pela democracia e àqueles corajosos militares que se souberam constituir vanguarda do povo português.

Guimarães, 24 de Abril de 2108
António Monteiro de Castro

terça, 24 abril 2018 20:39 em Opinião

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