Princípios e Valores

A par de uma série de acontecimentos preocupantes ocorridos recentemente na cena internacional, sobretudo em Israel, fomos acometidos no panorama nacional, praticamente ao longo de toda a passada semana, por sucessivos e tristes acontecimentos que atingiram de modo especial um dos maiores e mais prestigiados clubes do futebol português, o Sporting Clube de Portugal e, de um modo geral, todo o futebol e todo o desporto nacional.

 

Tanta foi tinta que lhe dispensou a imprensa escrita e tantas foram as horas televisivas que massacraram os habituais consumidores de televisão que muito mais não haverá a acrescentar aos detalhes já conhecidos.

Há, isso sim, necessidade de uma profunda reflexão que estes tristes acontecimentos, associados a outros que têm ocupado as manchetes dos jornais nos últimos tempos, impõem a uma sociedade livre e democrática fundada e alicerçada na raiz cultural ocidental assente, ela mesmo, nos princípios e valores emanados nos últimos milénios sobretudo da religião judaica e da religião cristã.

Na verdade, o aparecimento de falsos profetas, dotados de uma superior capacidade de anunciar e prometer novos horizontes aos incautos cidadãos, e de convencer até mesmo os mais letrados, tem vindo a ameaçar instituições civis e políticas.

Se agora se tratou de acontecimentos circunscritos à área do futebol, as suas características, baseadas sobretudo no populismo, surgem muitas vezes na área da política, constituindo por isso mesmo uma ameaça e um perigo real para a democracia, o regime político que comprovadamente melhores condições tem conseguido proporcionar ao desenvolvimento económico e social da humanidade.

Sendo certo que Portugal sofreu, com veemência, no passado, os efeitos da presença do populismo na política, com casos como Valentim Loureiro, Isaltino Morais entre outros, casos em que houve um responsável político como Marques Mendes que teve o discernimento e a coragem de os denunciar e recusar enquanto presidente do PSD, continua, no entanto, o país, a sentir ainda na pele casos como o de José Sócrates e de sua “entourage” que, entrelaçada com o poder económico representado pelo todo poderoso presidente do grupo Espírito Santo, pela Caixa Geral de Depósitos e seus amigos chegados de assalto ao BCP, como Santos Ferreira e Armando Vara, acolitados por “gestores de sucesso” como Zeinal Bava e Henrique Granadeiro da empresa Portugal Telecom, tanto desgraçaram o contribuinte na concretização de contratos desastrosos, com particular destaque, para as rendas das Parcerias Público Privadas (PPP).

Apesar de tudo isto, mas talvez fruto da bancarrota a que o país chegou e das exigências impostas pelos credores internacionais, ter-se-á descontaminado, pelo menos provisoriamente, este ambiente promíscuo presente na condução e gestão da coisa pública, aspecto de primordial importância não só pelo que significa de salvaguarda dos interesses públicos como, sobretudo, pela contenção das forças populistas, sempre atentas às fraquezas do regime e que têm conseguido emergir por essa Europa fora como em França, Espanha, Itália, Áustria, Hungria, Holanda, Polónia e até mesmo Alemanha.

Cada vez mais se torna necessária a presença de gente séria e de sólida formação na condução da vida das instituições, sejam elas políticas, sociais ou de qualquer outra natureza. Gente capaz de saber resistir às investidas do sem-número de demagogos e bem-falantes que proliferam na sociedade à procura de notoriedade e protagonismo.

Gente que vá para servir e não para se servir. Gente que não tenha medo de enfrentar os “ditadorzecos” que inundam as instituições e afugentam os que denunciam o amiguismo, a opacidade e a falta de transparência na vida das instituições.

Oxalá os membros das comunidades saibam ler, atempadamente, os sinais dos candidatos a governantes das suas instituições e se previnam contra esta praga que ao longo dos tempos tão mal têm feito à vida dos povos.

Guimarães, 22 de Maio de 2018
António Monteiro de Castro

terça, 22 maio 2018 22:25 em Opinião

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