Festival

Depois de um Verão repleto de concertos, o que permanecerá comigo é a simplicidade e a honestidade das músicas dos Spiritualized (...). O corpo saiu, mas a cabeça permanece no anfiteatro verde de Paredes de Coura neste concerto que foi uma viagem espacial, uma pista de dança, o confessionário de uma igreja.”
Hugo Geada. Ipsílon/Público. 23.08.19.

 

Portugal tornou-se uma espécie de paraíso dos festivais de verão. Nos últimos vinte anos juntaram-se ao mítico Vilar de Mouros, ao inimitável Paredes de Coura (a partir de 1993), ao poeirento Sudoeste (1997) e ao Super Bock Super Rock (1995), muitos outros festivais: Músicas do Mundo em Silves (aquele que verdadeiramente me falta!), Rock in Rio, Nos Alive, Cool Jazz Festival, Primavera Sound, Marés Vivas (estive na sua primeira edição de 2001 para ver os Costeau) e o Summer Fest. Em 2018 estima-se que o conjunto dos festivais tenha conseguido um milhão e trezentas mil entradas. O que é verdadeiramente notável para a economia portuguesa e, sobretudo, para a higiene mental dos portugueses.

A música vale sempre a pena e os festivais têm um modelo que nos permite ver várias bandas num mesmo espaço, ao ar livre e num determinado período. Nos festivais tem-se música, muita conversa e pouco wi-fi o que é absolutamente refrescante nos dias que correm. Este ano comemoram-se aliás 50 anos sobre o Festival do todos os festivais: o Woodstock que reuniu 500 mil pessoas e se tornou o ícone dos festivais de música. Um evento que era para ser pago (e venderam-se bilhetes) e se tornou gratuito devido à impossibilidade de controlar a multidão que então se deslocou à pequena vila de Bethel, a 175 km de Nova Iorque.

Vilar de Mouros, em 1982, foi o meu primeiro festival. Inesquecível não só por ser o meu primeiro festival, mas por ter tido um cartaz irrepreensível, com todas as melhores bandas de então. Faltaram apenas os New Order e os The Cure. Este ano cicatrizei a ferida! Mas de todos os festivais Paredes de Coura é o mais especial. Não só pelo sítio deslumbrante onde decorre mas pelo facto, raro, da maior parte do pessoal estar lá para ouvir música e não com o fútil propósito de tirar selfies. Já vou lá, com muito poucas falhas, desde a sua 5ª edição em 1997. E a coisa corre quase sempre bem, como este ano correu.

O jornal Público faz de Patti Smith e do seu concerto uma bonita capa da sua edição de 19 de agosto. Ficou-lhe muito bem.

Em tempo de festivais nada atrapalha, nem o combustível. No entanto não deixei de acompanhar, através do meu jornal, o Público, as notícias. Nos primeiros quinze dias de agosto li estes títulos: Lista do PSD por Lisboa não cumpre a lei da paridade (01.08.19, p.10), No PSD há gente a sair das listas e dirigentes a deixar os cargos (02.08.19, p.11), Quem faz companha no terreno com Rui Rio? (03.08.19, p.10), Apoiante de Luís Montenegro já fala no PSD póslegislativas (06.08.19, p.8), Programa do PSD propõe medida que já existe, mas só no papel (09.08.19, p.18) ou Ex-apoiante de Rui Rio diz que líder tem de sair depois das legislativas (15.08.19, p.12). Será tudo assim tão mau? Precipitação minha, pois há afinal títulos simpáticos: Bloco de Esquerda: sonhos de um acampamento de verão (04.08.19, p.10), Novo Banco: Bloco não quer que se use dinheiro para pagar a “fundo abutre” (06.08.19, p.10), ou Governo faz esforço por pôr motoristas a negociar, mesmo ao lado de (...) Rio critica não se percebe bem o quê? (14.08.19, p.5).

No mesmo jornal destaca-se, em primeira página, a 23 de agosto, Jogos sociais renderam 327 mil euros por dia ao SNS, mas eu preferiria que o título fosse Portugueses gastaram mais de 3 mil milhões de euros em jogos sociais. Isso sim é verdadeiramente a notícia, pois quem nisso gasta dinheiro são os portugueses com mais dificuldades económicas, sempre à procura do golpe de sorte que nunca surgirá. Por isso é que eu demoro muito tempo para comprar o jornal Público: à minha frente estão (quase sempre) cinco pessoas para comprar a raspadinha do Zodíaco!
E a única pessoa que no quiosque lá está para comprar o jornal, eu, lê então sem necessitar de pôr os óculos: PSD com um pé nas legislativas e outro no day-after (p.10). Tudo normal.

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