O Professor Freitas do Amaral

Recebi e vivi a revolução de Abril de 74 com a alegria entusiasmante que a generalidade dos jovens do meu tempo, receberam, sentiram e viveram.Recebi e vivi a revolução de Abril de 74 com a alegria entusiasmante que a generalidade dos jovens do meu tempo, receberam, sentiram e viveram.

Frequentava, na altura, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, tendo já vencido a primeira grande barreira do curso que se chamava Faculdade de Ciências, o autêntico filtro dos cursos de Engenharia.
O ambiente estudantil pré-revolução, ainda sob a influência do movimento académico de 68, era propício ao confronto de ideias e à vivência das utopias que alimentavam o sonho da construção de uma sociedade diferente, uma sociedade sem classes, sem a exploração do homem pelo homem.

O avanço da revolução, porém, e os excessos que a acompanharam, fizeram emergir a realidade, desmontando e fazendo esmorecer, progressivamente, os sonhos do passado recente.
O espectro político, rapidamente foi preenchido. MDP/CDE, Partido Socialista e Partido Comunista estavam já no terreno.
Em Julho de 74 aparece, porém, um novo partido. O CDS, Centro Democrático Social, fundado por “um vimaranense nascido na Póvoa de Varzim”, o professor Diogo Freitas do Amaral, com uma mensagem e um conteúdo que abalaram profundamente o meu pensamento político até esse momento.
Sensibilizado por meu irmão, que tendo ido estudar para Roma em 1963 e acompanhado a acção da Democracia Cristã em Itália, me realçava a importância da doutrina Social da Igreja na construção de uma sociedade solidária e desenvolvida, senti-me conquistado pelo programa e pelo conteúdo ideológico do CDS desse tempo.
Na verdade, passei a sentir pelo professor Freitas do Amaral, seu fundador  e grande ideólogo, uma profunda admiração pelo seu saber, pela sua seriedade política e pelo seu empenho na causa da construção da democracia no nosso país.
O meu relacionamento pessoal com professor Freitas do Amaral acabaria por ocorrer apenas alguns anos depois, por volta do ano de 1985, quando passamos a integrar os corpos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, ele como presidente da Mesa da Assembleia Geral e eu como vice-provedor da Mesa Administrativa presidida pelo senhor Antonino Dias.
Tempos muito difíceis para a instituição, fortemente endividada, com a obra do lar Rainha Dona Leonor parada havia vários anos por falta de dinheiro. Tempos, em que todas as receitas da Santa Casa não eram suficientes para pagar os juros ao banco.
Não fosse a preciosa ajuda do professor Freitas do Amaral, acompanhando-nos nas diligências junto do Ministério dos Assuntos Sociais e junto da entidade bancária principal credora da instituição e teria acontecido uma verdadeira catástrofe na principal instituição particular de solidariedade social de Guimarães.
Seria, durante os três triénios da sua presidência da Assembleia Geral, que a instituição haveria de pagar todas as dívidas e construir todos os lares que actualmente possui.
O seu amor a Guimarães, sua terra natal e de seus pais e avós paternos, tocavam-lhe bem fundo e estavam presentes nas suas palavras e nos seus actos. Muitas foram as intervenções que teve ao serviço da sua e nossa terra.
Lembro-me da história que contava, acerca dos estudos para a formação de uma nova Universidade em Portugal, na zona do Minho, elaborados em princípios da década de setenta e que apontavam Guimarães como a localização tecnicamente mais adequada para o efeito, e das diligências que havia feito com seu pai, Engº. Duarte Amaral, deputado na Assembleia Nacional, junto do Ministro da Educação da altura, Professor Veiga Simão, para tentar lutar contra o loby bracarense encabeçado pelo governador civil de Braga de então, Santos da Cunha, que exigia a sua construção na cidade de Braga. A solução de compromisso encontrada foi, como é sabido, a actual, com dois pólos: um pequeno em Guimarães e um bem maior em Braga.
Muitos outros contributos, deu à sua amada terra, como o empenho na realização das jornadas do 2º. Congresso Histórico de Guimarães ou o empurrão decisivo para a construção do novo Hospital que tanto prestigia a nossa cidade.
Guimarães e o país ficaram mais pobres. Acabam de ver partir para a eternidade um dos seus filhos mais ilustres. Paz à sua alma.

Guimarães, 7 de Outubro de 2019
António Monteirode Castro


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