A Europa

O velho continente europeu sofreu, ao longo da sua história, guerras constantes que estiveram na génese e formação dos vários estados e nações que a compõem, alguns já com quase nove séculos como Portugal. O velho continente europeu sofreu, ao longo da sua história, guerras constantes que estiveram na génese e formação dos vários estados e nações que a compõem, alguns já com quase nove séculos como Portugal.

No dealbar dos primeiros séculos da era Cristã, o Império Romano marcoupresença em praticamente todo o espaço europeu, transportando consigo o Cristianismo, a nova doutrina nascida na Palestina, território por si ocupado.
A força da sua mensagem e o vigor da sua semente regada com sangue de mártires, permitiu que este espaço se transformasse, ao cabo de alguns séculos, numa referência, em todo o Globo, nos campos social, económico e científico ultrapassando outras civilizações, até aí mais adiantadas, como a árabe e a chinesa.

Praticamente já nos nossos dias, nos princípios do passado século XX, confrontou-se com duas catastróficas guerras, a primeira das quais em 1914/1918 que contou com a presença de um contingente português enviado, em desespero de causa, pelo irresponsável e já agonizante governo da primeira República chefiado por Afonso Costa.
As severas condições impostas à derrotada Alemanha pelos países vencedores, França e Inglaterra, conduziram-na à miséria e à revolta do seu povo gerando um crescente descontentamento, conducente ao aparecimento de um novo partido nacional-socialista nazi, presidido por um dos maiores assassinos da história de todos os tempos, Adolfo Hitler.
Depois de vários anos de preparação para a guerra, e após um teste com a participação da sua força aérea na guerra civil espanhola de 1936/1939 apoiando as forças nacionalistas do general Franco, Hitler invade a Polónia em 1 de Setembro de 1939 dando início à mais sangrenta das guerras que afligiu a Europa e o mundo, a grande guerra de 1939/1945 que a deixou praticamente destruída e com um número de mortos da ordem das dezenas de milhões.
A sua reconstrução, com o apoio dos Estados Unidos da América através do plano Marshall, marcou o arranque de um dos seus mais longos períodos de paz, caracterizado pela busca da cooperação e prosperidade e que, liderada por estadistas visionários como Konrad Adenauer, Jean Monnet, Robert Schuman e Alcide de Gasperi, perceberam e descobriram a melhor forma de impedir novos conflitos no velho continente, criando instituições que levaram os países europeus a partilharem decisões relativas a setores chave da atividade económica, constituindo assim, em 1952 (ano de meu nascimento), a CECA-Comunidade do Carvão e do Aço e, mais tarde, em 1957, a EURATOM para a gestão da energia Nuclear.
O sucesso destas duas organizações despertou nestes líderes a ambição da criação de um Mercado Único Europeu, organização com órgãos próprios supranacionais regidos por determinados princípios: Comissão Europeia (o governo), Parlamento Europeu (representantes dos cidadãos europeus) e o Tribunal Europeu.
Em 1957 era assinado pela França, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Itália o Tratado de Roma que defendia, na nova comunidade europeia, o mercado comum a funcionar respeitando quatro liberdades fundamentais: livre circulação de pessoas, livre circulação de capitais, livre circulação de mercadorias e livre circulação de serviços.
O seu êxito foi imediato, conciliando um constante crescimento económico da comunidade com a integração progressiva de novos membros e afastando de vez os conflitos entre as principais nações europeias.
Depois da criação em 2002 de um espaço com moeda única, o euro, ao qual aderiram vários países entre os quais Portugal, viu-se a Europa confrontada com a crise do sub-prime, nascida em 2008 nos Estados Unidos, a qual viria a contaminar a economia europeia, despoletando uma crise financeira que atingiu fortemente os estados, a dívida soberana, as empresas e as famílias, de modo especial os mais endividados do Sul, trazendo um período de forte austeridade imposta pela Troika B.C.E., F.M.I e C.E.
Agora debate-se com nova crise, uma crise sanitária surgida na China a quem ninguém ainda exigiu responsabilidades e que provoca, de forma drástica, uma crise económica que não se cinge apenas aos países do Sul.
A forma titubeante como reagiu nas primeiras semanas, deixou transparecer afalta de um sentimento comum europeu, de modo especial com a ausência de solidariedade para com a Itália.
Para mim, que sou desde a primeira hora federalista convicto, acredito que as presentes provações a que a Europa está a ser submetida poderão contribuir para despertar os seus actuais responsáveis, tal como aconteceu com os seus fundadores, para um alargamento das suas ambições na concretização de uma verdadeira política económica, externa e de defesa comum, promovendo a investigação e a reinsdustrializção do velho continente, libertando-o das graves dependências dos Estados Unidos e da China.
Oxalá que todos estes sofrimentos em curso possam ser sucedidos pelo fortalecimento deste bloco europeu, portador avançado dos padrões de justiça, de liberdade e de paz.
Saúde para todos

Guimarães,21 de Abril de 2020
António Monteirode Castro

P.S. – O 25 de Abril, data comemorativa da efeméride mais importante da democracia, deveria, mesmo a nível municipal, merecer uma cerimónia nos Paços do concelho, singela que fosse, contando apenas com as autoridades e um representante de cada partido.


terça, 21 abril 2020 22:25 em Opinião

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