O infindo universo para além do SARS COV 2



A crer-se que este Universo, o que temos e no qual nos achamos, surgiu de uma explosão inicial de algo ainda indetermi

nado (e cuja calda primária pronto deu origem a energias, partículas elementares massivas, ou não e forças que, numa dinâmica sequencialmente consequente em termos de probabilidades viabilizáveis enquanto o forem, se foram complexando e formando toda a matéria que nos é dada aperceber, entre ela este astro a que chamamos Terra e que tudo, portanto e assim, é uma cadeia, processo, contínuo e contíguo), fácil é compreender que este vírus que nos incomoda, nele, nesse absoluto, não passa de uma insignificante minudência existencial dum cainho planeta dum sistema estelar das bordas de uma galáxia.
Coisa nenhuma, por conseguinte.
Tanto mais que, ocorrendo naturalmente no acima abstracto introdutório, esta epidemia não se distingue de tantas outras (com origem em bactérias, vírus, prións ...) que, periódicamante e desde que há memórias, assolam a fauna e flora terrestres. De distinto só o seu recente salto para hospedeiro humano. E as consequências que nele tem tido pela impreparação deste para maioritariamente o auto anular e impedir efeitos que podem, em situações de fragilidades várias, causar complicações graves e mortes (embora a taxa de letalidade, quando comparada com a de tantas outras que lhe coexistem - por exemplo, subnutrição, doenças epidémicas ou não, guerras e suas consequências, poluição, drogas e por aí fora -, até ao momento, não tenha grande significado).
Neste contexto e desde cerca do seu surgimento, a solução que foi ganhando força foi a da tentativa de evitar um contágio alargado, tentando-se reduzi-lo ao directo e, mesmo nesse caso, à sua crescente contenção ao menor número possível, até se atingir um mínimo equilíbrio convivial com o vírus. Decisão que faz todo o sentido de um ponto de vista de ética política, atendendo a que a ausência dessas medidas e sobretudo nos países mais desenvolvidos (suposição que se procurará afiançar posteriormente), a ocorrer uma disseminação generalizada que seguisse a curva de Gauss, a quantidade de mortes poderia alcançar números não aceitáveis neles para este nosso tempo.
Entretanto e pela rápida difusão verificada da Covid 19, classificou-se a de pandemia.
Entretanto, também, na quase obrigatoriedade de ainda não se poder calar a referência à doença, como se vê deste e para lá da incontornável informação oficial que dela tinha que ser prestada e tem sido cumprida, de modo geral os media que temos portas a dentro, sensacionalistas e sempre prontos a explorar tudo o que é vendável, ao abrigo de uma liberdade que o não é (pois ela não reside no permanente massacre opinativo de um qualquer bicho careta intitulado especialista de qualquer coisa e que, com aparente cariz científico, se pronuncia baseado em dados que, as mais das vezes, subjectivos, carecem de fundamento comprovado), optaram por o espectáculo da calamidade, num excesso noticioso de tantos ditos que apenas confundem e desnortearam. E o que é mais engraçado é que, assimilando esta epidemia a uma guerra sui generis, desvirtuam o princípio lógico da condução dela segundo uma estratégia centralizada e optaram por uma rede de palpites ao jeito de guerrilhas desconectadas. Ao mesmo tempo que os meios audiovisuais e desaproveitando o confinamento, desistiram de se prevalecerem da circunstância para um melhoramento da literacia, insistindo nos costumados programas de menoridade intelectual e de entorpecimento da desejável valorização cultural.
Enfim, tem sido o que temos.
Deixada esta miséria e como atrás se deixou em aberto, detenhamo-nos agora sobre a Covid 19 nos países mais desenvolvidos. Para isso e utilizando o mapa e quantificações dos casos diários, e diariamente actualizados, fornecidos pela BBC segundo a Johns Hopkins University, de Baltimore, Maryland, USA, o que se constata é que as incidências, e mesmo as mortes, são nestes, como regra, proporcionalmente enormes em comparação, para já, com, digamos, o resto do mundo. Sem qualquer critério e muito menos certitude, o que, talvez, se possa apontar é que nestes, nos países mais desenvolvidos, a ciência e tecnologias aplicadas, os sistemas de saúde, as condições sanitárias e de um modo global as totais da vivência das respectivas populações, permitiram e foram permitindo que os níveis de esperança de vida fossem subindo. Isto é, que muitos dos que deveriam ter ficado pelo caminho fossem sobrevivendo e entrassem igualmente na decrepitude, formando, assim, um grande contingente de debilitados, cujas capacidades imunológicas já não respondem com eficácia a ataques virais mais agressivos. A par disso e nos desses países em que o contágio se desenvolveu primeiro, e rapidamente, os regimes de saúde neles existentes não foram capazes de responder com eficiência aos muitos doentes que a eles acorreram e, inclusivamente, colapsaram (e também porque, nessa altura, os conhecimentos sobre as características do vírus eram ainda quase nenhuns e, sobremaneira, sem ser uma hipótese inimaginável, mas na sua real imprevisibilidade, os respectivos apetrechamentos sanitários não estavam preparados para uma tal afluência). Situação que alguns dos segundos e terceiros, foram conseguindo evitar através de medidas que contiveram a propagação.
Medidas que tiveram, e vão ter, outros efeitos cuja extensão e dano ainda são difíceis, para não se dizer impossíveis, de calcular em todos os seus parâmetros.
Mas uma coisa é já certa: numa sociedade de consumo como as em que vivíamos, a queda abrupta da procura, por paralisação comunitária, causa mossa.
Ora e nesta perspectiva, a grande, e porventura desastrosa (senão mesmo fatal), ameaça para a humanidade não é o sars cov 2, ou quejandas epidemias; como a História o demonstra à saciedade. Por o que, eliminando fenómenos astronómicos e fixando-nos no nosso chão, na Terra, o que nos pende sobre a cabeça são outros cataclismos bem mais ferozes, duradouros e terríficos quanto às suas consequências. Assim, sem se entrar num discurso ecologista puro e duro, a verdade é que as alterações climáticas que já se sentem no quotidiano, a diminuição da biodiversidade, a já aduzida poluição, a exaustão de matérias primas não renováveis e tudo o que se lhe segue, num futuro que já estará por aí, podem ocasionar paralisações bem mais difíceis de controlar, ou circunscrever temporalmente. E depois?
Será que esta reprimenda, esta canada para chamar a atenção dos tempos da escola primária de antanho (hoje seria um nefando crime), não vai servir para nada?

Fundevila, 25 de Abril de 2020


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