Nuvens negras no horizonte
Falar na existência de nuvens negras em pleno verão, situação meteorológica pouco comum mas não de todo impossível, poderá parecer um pouco bizarro.
Refiro-me às que prenunciam a chegada de maus tempos para o país e para o mundo, tempos de agravamento da crise sanitária, transportando consigo uma profunda crise económica e social.
Os boletins noticiosos transmitem-nos, a cada momento, a impressão de que a dimensão da crise cresce cada dia que passa e que ameaça transformar o mundo que nos habituámos a conhecer e não saber valorizar, num mar tempestuoso de consequências imprevisíveis. Parece aproximar-se uma verdadeira tempestade com dimensão planetária.
Se nos primeiros meses do aparecimento do vírus e da doença por ele causada, a reacção geral foi de acatamento e até mesmo de confinamento voluntário, alimentando a esperança de que seria uma situação passageira, para muitos como eu, o problema maior seria a crise económica e social que se seguiria, que essa sim, atingiria não apenas 0,5% ou 1% da população, mas praticamente a sua totalidade.
Com o passar dos dias vai-se tomando cada vez mais consciência da gravidade e da dimensão que a crise está a alcançar a nível mundial. Ainda ontem ouvíamos o diretor geral da OMS a dizer:“o vírus continua a ser o inimigo público número um, mas as acções de muitos governos e pessoas não refletem isso; se não forem seguidas as medidas básicas, o que vai acontecer a esta pandemia é ficar muito, muito pior”.
Quando em finais de Abril e meados de Maio parecia termos passado já a tormenta com sucesso, merecendo mesmo Portugal a admiração e rasgados elogios na opinião pública Internacional, eis que, com o fim do confinamento surge o aparecimento de vários surtos epidémicos espalhados um pouco por todo o lado, com especial destaque para a região de Lisboa e vale do Tejo, os quais vieram alterar completamente a imagem do nosso país.
Face ao número de novos infetados por cada 100.000 habitantes vimo-nos, de um momento para o outro, relegados para o grupo dos países de risco. De entre os europeus, apenas a Suécia nos ultrapassa nesse parâmetro.
Espanha e Itália, os mais fortemente atingidos na Europa pelo flagelo da doença, com os serviços de saúde incapazes de dar resposta adequada a tanta procura e com um número de óbitos na ordem das dezenas de milhar, conseguiram suster, pelo menos no presente, a escalada de novas infecções.
Para Portugal, as consequências da degradação da imagem da saúde do país já se fazem sentir com a continuada paralização do sector do turismo, responsável por 14% do nosso produto interno bruto.
Uma queda de 50% - valor optimista - deste importante sector da economia nacional provoca, por si só, uma queda de 7% do PIB, não se percebendo, por isso, aquele valor de 6,8 % apresentado pelo governo.
Mas o grande problema é que, infelizmente, não é uma crise circunscrita a Portugal mas sim ao mundo inteiro, e é essa a razão que provoca uma grande apreensão sobre o futuro próximo.
Na verdade, a crise que teve o seu início na Ásia, em consequência da globalização, rapidamente se passou à Europa e, umas semanas depois, à América e à África. Todos os países, pobres e ricos, foram atingidos por este inimigo invisível.
Alimenta-nos a esperança de que os saltos qualitativos que a ciência vem dando, assim como a forma generosa e solidária como tem partilhado o conhecimento, possam, brevemente, encontrar a vacina para a prevenção e o remédio para a cura da doença.
Até lá, vamos lutando e aprendendo a saber conviver com mais este inimigo que a natureza, tal como tem feito ao longo dos tempos, agora nos trouxe, e fazer votos de que possamos saber tirar lições para o futuro quanto aos nossos comportamentos e à forma como com ela lidamos.
Boas férias e saúde para todos.
Guimarães, 14 de Julho de 2020
António Monteiro de Castro