Provação da humanidade e falecimento de um grande vimaranense

1. Praticamente chegados a meados do Outono, a estação que a natureza adoptou para sua transfiguração e preparação para as provações

a que o inverno sempre a sujeita, parece sermos chamados também a fazer os preparativos para enfrentar esse inimigo invisível que diariamente marca presença na generalidade das ações desenvolvidas no mundo inteiro.

O coronavírus Sars-CoV-2 e a doença Covid 19 por ele provocada assalta, a todos os momentos, os espaços noticiosos das comunidades, seja pela informação da sua propagação, seja pelos impactos que provoca em termos económicos e sociais.

Guimarães, a nossa amada Terra, não é excepção. Os serviços de proteção civil e as unidades de saúde manifestam grandes preocupações com a sua rápida e assustadora progressão local.

Alguns acontecimentos de concentração colectiva cá ocorridos nos últimos dias, como aquele no pavilhão multiusos, vieram contribuir para a passagem de uma mensagem distorcida sobre aquilo que se pode mas não deve fazer, de modo a minorar as consequências de tão ameaçadora doença, evitando o recurso a uma nova paragem catastrófica do país.

As notícias sobre os avanços da medicina na descoberta de uma vacina eficaz não têm sido suficientemente encorajadoras para esbater o clima de preocupação que acompanha o mundo inteiro nos tempos actuais.

A presença da pandemia reflete-se praticamente em todos os acontecimentos que ocorrem diariamente na vida económica, social e política em todo o mundo.

Tudo parece condicionado pela existência desta estrutura ínfima que parasitando as células, consegue reproduzir-se à custa delas atacando assim qualquer ser vivo, seja planta, seja animal.

A ansiedade por notícias positivas e animadoras é grande. Oxalá a ciência consiga, mais uma vez, ultrapassar este terrível obstáculo que vem corroendo, progressivamente, a confiança e a fé num mundo mais feliz.

2. A pesar, neste ambiente, já de si algo desanimador, surgiu mais um acontecimento que veio a adensar o sentimento dos vimaranenses. Viram partir para a eternidade, no passado dia 8, um dos seus membros mais ilustres, o Dr. Fernando Alberto Matos Ribeiro da Silva.

Homem de convicções profundas que, tendo sabido servir como poucos o país e a região, ora desempenhando as funções de deputado à Assembleia Constituinte, ora as de governador civil do distrito de Braga, jamais esqueceu a sua terra, Guimarães, a quem sempre dedicou um carinho e amor especial reconhecido pela generalidade dos vimaranenses e bem vincado na associação Unidade Vimaranense que fundou e presidiu.

Embora de geração posterior à sua, tive o privilégio de o acompanhar em alguns dos momentos em que serviu a nossa comunidade. Recordo os primeiros tempos da instalação do novo Hospital de Guimarães, em que assumiu a presidência do Conselho Geral do Hospital, órgão que integrei em representação da Santa Casa da Misericórdia e em que os momentos mais acesos respeitavam à apreciação das contas e à forma desadequada, como ao tempo, era elaborado o orçamento do hospital.

Recordo também a forma corajosa como se empenhou no acompanhamento e resolução das dificuldades que na primeira crise do Vale do Ave atingiram as empresas têxteis da região, com a Coelima à cabeça, por ser uma das maiores da península ibérica.

Recordo também o seu empenho no apoio e na resolução das dificuldades das Instituições Particulares de Solidariedade Social enquanto Governador Civil do distrito de Braga que culminaram com uma grande festa de homenagem que lhe renderam centenas de instituições do distrito e na qual participei em representação da Irmandade dos Santos Passos.

Jamais esquecerei que foi o único Governador Civil do Distrito que, não olhando a críticas, soube ser verdadeiro intérprete do sentimento religioso da população que representava, marcando presença nas principais procissões religiosas de Guimarães e de todo o distrito.

Recordo sobretudo a forma séria e respeitadora como sempre encarou a política e os seus adversários, jamais deitando mão de processos não consentâneos com os princípios democráticos que o norteavam.

Guimarães e os vimaranenses ficaram mais pobres. Possa o seu testemunho servir de exemplo para os políticos de hoje e de amanhã.

Paz à sua alma.

Guimarães, 20 de Outubro de 2020
António Monteiro de Castro

terça, 20 outubro 2020 18:39 em Opinião

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