Fasto em tempos nefastos

É efectivamente precisa uma visão de futuro, uma concepção arrojada, para o desenvolvimento urbano da nossa cidade.

E que, portanto, assim e definitivamente, se lhe concebam reais perspectivas engrandecedoras e se a retire do marasmo (senão mesmo da retrogradação) para onde estas mais de três derradeiras dezenas de anos a empurraram (pela intencional renúncia à sua erecção, e capaz estruturação como, a potencial capital do então ainda pujante, por este lado interior, Vale do Ave e, simultânea e igualmente, a sua natural ligação à área metropolitana do Porto). Por conseguinte, aspirações como essa do metrobus que vem sendo defendida, ainda que isolada, desenham um despertar para outros voos. Voos etéreos que se alinham com a série de veneras e galardões que nos têm sido obsequiados e ostentamos ao, como sói ser uso nas pessoas, peito; ostentações aliás merecidíssimas, ufana-se por cá. E num peito tão inchado de agraciamentos, o metrobus aparece assim como mais uma espécie de grandiosa alavanca de progresso.

Nesta correnteza de euforias criativas, o casar-se a igualitária evolução qualitativa e quantitativa entre dois polos urbanos de bacias hidrográficas bem distintas, é coisa de pendor sisífico. E a do enterro de rivalidades ancestrais, não a é menor, tanto mais que, parece, também e por um passado que se estende ao presente, os ganhos têm pendido sempre para o mesmo lado; como foi, e é, o caso da Universidade. Mas adiante ...

Ora quando se pensa tão por acima das nuvens, temos mesmo que nos elevarmos até à exosfera. E se considerarmos que o túnel rodoviário de Saint Gotthard (para não chamar à colação o seu ferroviário, ou o de Laerdal, na Noruega) tem mais de quinze quilómetros (mais ou menos a distância em linha recta da Sé de Braga à Colegiada de Guimarães), compreende-se que a Falperra é um pequeno obstáculo para uma perfuradora que, pronto, a atravessaria e encurtaria o afastamento entre as duas urbes para pouco mais de meia dúzia de quilómetros. Ou seja, uma menosprezível deslocação citadina.

Tanto mais que, nos tempos que correm e com os meios técnicos existentes, essa deslocação poderia acontecer em escassos minutos: dez a quinze quando muito. Isto é, ligaria as duas cidades como partes não muito distantes de uma qualquer área urbana.
A ser destarte e ao inverso do factor densidade (urbanisticamente aqui trocado por tamanho) em forçada extrapolação do teorema de Stevin, poder-se-á crer que o bom senso de uma racionalidade esclarecida e subsequente apetência, levará a que, a curto e médio prazo, a cidade de Braga se vá transferindo para esta tão qualificadíssima em níveis de excelência, a nossa bem amada berço; isto, quer pela transferência de residências (desde logo e a principiar por os não autóctones, os universitários: docentes, discentes e demais respectivo pessoal), quer para fins comerciais, de serviços, de laser e até, plausivelmente, de cultura. Num inegável acrescentamento populacional e de utentes difícil de imaginar na sua certa amplitude, mas que e por essas conjecturadas acrescências, para esta banda e por os milhares de viajantes diários, mais que justificariam os ouvidos 200 milhões.
Daí a generalizada congratulação por esta brilhante quão esplendorosa ideia.

Fundevila, 2 de Dezembro de 2020


terça, 08 dezembro 2020 17:02 em Opinião

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