Um Natal diferente

Praticamente a dez dias do Natal, a festa da família por excelência, vive o país e o mundo uma situação profundamente diferente daquela

que, ao longo de quase um século, se habituou a viver nesta quadra natalícia.

1. Diferente, pela situação pandémica que vive Portugal e o mundo com consequências desastrosas ao nível das relações humanas, impedindo o natural estreitamento afectivo entre as pessoas, tão característico desta época, de modo especial no seio da família, para quem esta quadra natalícia é especialmente vivida com uma intensidade profunda e com uma maior proximidade física entre as suas diferentes gerações.

Depois, pelo sofrimento que vivem muitas famílias vítimas da doença Covid19, que se viram confrontadas com a perda de entes queridos ou com a destruição da sua situação económica, pela perda do emprego ou pela ameaça da perda de rendimentos quando terminados os apoios estatais.

2. Diferente também, pelas ameaças que se vislumbram no horizonte próximo, a nível nacional e a nível internacional.

A nível interno, vamos colhendo agora as consequências de uma política apostada na reversão das medidas adoptadas pelo corajoso governo de salvação nacional PSD/CDS de Passos Coelho e Paulo Portas o qual, após quatro anos de provação, conseguiu retirar Portugal dos cuidados intensivos a que foi sujeito por imposição da troika de financiadores, no seguimento dos desvarios orçamentais cometidos pelo governo presidido por José Sócrates, restituindo a Portugal a credibilidade dos mercados financeiros internacionais.

Na verdade, ao chegar ao poder sem ganhar as eleições, coisa nunca antes vista, recorrendo àquilo que Vasco Pulido Valente denominou de geringonça, António Costa tratou de proceder, em Junho de 2016, à reversão da lei das 35 horas para os funcionários públicos os quais, desde Outubro de 2013, estavam sujeitos, tal como o sector privado, a um horário de 40 horas semanais.

Juravam na altura, com o ex-ministro Mário Centeno à cabeça e fazendo de todos nós ignorantes, que tal redução de horário não teria implicações orçamentais, exibindo desde logo o sector da saúde, enfermeiros em especial. As consequências foram o aumento das horas extraordinárias, a acumulação de cuidados médicos, o crescente atraso de cirurgias acompanhado de desinvestimento geral no sector.

A chegada da Covid19, veio pôr a nu a situação real do Serviço Nacional de Saúde que, focalizado na doença, descurou as restantes patologias, provocando, no espaço de Janeiro a Julho, menos 24% de cirurgias, 6.000 das quais urgentes, e um inexplicável aumento do número de mortes não covid que ultrapassou em 5.200 a média dos últimos cinco anos.

Instada, sistematicamente, a que recorresse aos serviços de saúde prestados pelo sector privado e institucional de modo a evitar o acumular dos atrasos e mortes desnecessárias, a responsável do ministério, Marta Temido, foi manifestando muita dificuldade em conseguir libertar-se do jugo ideológico que sobre ela pesa, ignorando os dados estatísticos que confirmam a sua qualidade e eficiência.

Ainda no campo das reversões, merece especial destaque a intervenção insensata deste governo na empresa TAP o qual, uma vez chegado ao poder, entendeu nacionalizar novamente a empresa, assumindo a maioria do capital, após a privatização feita pelo governo anterior, que a havia vendido a investidores privados, um dos quais, David Neeleman, com reconhecidos conhecimentos do sector.

Chegado o tempo de pandemia, vemos o desbragado ministro da tutela dos transportes e infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, dar o golpe final nesta empresa de referência que apesar das dificuldades financeiras relacionadas com o enorme salto da sua dimensão dado com a anterior gestão privada, expulsa o principal conhecedor do negócio, transferindo para os contribuintes portugueses um compromisso que se estima, para já, em três mil e duzentos milhões de euros e anuncia uma reestruturação que constituirá uma ferida social de enorme dimensão e uma redução acentuada da dimensão da empresa.

3. A nível internacional e com o fim do período negro correspondente à presidência de Donald Trump que, além de ter retirado os EUA das principais instituições internacionais, fomentou o populismo doentio e altamente perigoso por vários cantos do mundo, sente-se cada vez mais a luta renhida entre os Estado Unidos e a China pela hegemonia mundial ao nível económico e mesmo ao nível tecnológico.

Quanto à Europa, continua ainda à procura de um acordo para o Brexit e, meio perdida, manifesta dificuldade em encontrar um rumo certo e avançar para uma necessária solução federal, ficando manietada e entregue ao sabor de falsos democratas forjados nos antigos regimes ditatoriais dos países de Leste.

Graças à Covid, conseguiu dar o passo, tantas vezes solicitado pelos países do Sul, de constituir um financiamento comum para os países da União, a já célebre bazuka europeia com um valor a rondar os dois milhões de milhões de euros, isto é, e em terminologia europeia, dois biliões de euros. Continua no entanto a faltar-lhe o aprofundamento de uma política de segurança e defesa, instrumento importante para a sua afirmação no plano diplomático mundial.

Continua também a assistir à fuga dos seus principais cérebros por falta de uma forte política de apoio à investigação, estando cada vez mais dependente da tecnologia americana e chinesa.

Sendo, manifestamente, um Natal diferente, tenhamos a esperança de que a Luz irradiada nos nossos corações pelo menino Jesus possa, mais uma vez, contribuir para a transformação do mundo num mundo melhor.

Votos de Feliz e Santo Natal

Guimarães, 15 de Dezembro de 2020
António Monteiro de Castro

Imprimir Email