Portugal à deriva

Depois de um Natal vivido em ambiente permissivo esquecendo a ameaça do vírus responsável pela pandemia, confrontámo-nos,

no início do ano, com consequências devastadoras em termos de novos infectados e mortos que empurraram Portugal para as bocas do mundo, destruindo muito do prestígio alcançado nos últimos anos.

Prestígio alcançado pela forma como estoicamente vencemos a provação do equilíbrio das contas públicas depois dos desvarios dos governos que atiraram o país para a bancarrota.

Prestígio confirmado internacionalmente pelo modo como o país passou a ficar na moda, atraindo celebridades mundiais da área da música, das artes, do desporto, culminando com uma onda de turismo nunca vista.

Prestígio agora destruído pelas más decisões tomadas e que, internamente, vão deixando perplexos e preocupados a generalidade dos cidadãos que se sentem num barco à deriva, sem rumo, porque os homens escolhidos para o leme parecem não estar à altura das funções que lhe são exigidas.

Depois de termos assistido a um dos maiores desastres da nossa história recente provocado por um devastador incêndio que, para além da destruição de importantes manchas de território provocou a morte de centenas de nossos concidadãos e de, mais tarde, verificar a fragilidade da segurança das forças a quem confiamos a nossa protecção e o modo aligeirado e irresponsável como se pretendeu arrumar o assunto, continuamos, infelizmente, a cada dia que passa, a assistir a factos novos e identicamente preocupantes.

Recordo o triste caso da morte do cidadão Ucraniano às mãos das forças do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que ficará assinalado como uma mancha negra na história do nosso país e que envergonhará Portugal para sempre.
Recordo a forma leviana como se atropelou a nomeação efectuada pelo júri de Bruxelas do procurador português para a procuradoria europeia, enviando informação falsa sobre o currículo do nome pretendido pelo governo, entendendo a ministra responsável pela justiça que tudo havia corrido dentro dos parâmetros da normalidade, não sentindo a necessidade de sua demissão.

Recordo a triste figura protagonizada pelo mesmo ministro responsável pelo sucedido no SEF, Eduardo Cabrita, colega e amigo de António Costa, ao constatar a acumulação, nas mesas de voto, dos 250.000 cidadãos eleitores que haviam manifestado vontade de votar antecipadamente nas presidenciais e que, por mau planeamento, provocou acumulação e filas de espera de várias horas, levando muitos a desistir.

Recordo aquele senhor, de seu nome Francisco Ramos, várias vezes secretário de estado, com ares de arrogante e a quem o governo entregou a importante tarefa da organização da vacinação. Desde o primeiro dia nos foi surpreendendo com suas decisões, nomeadamente a da não inclusão no primeiro grupo a vacinar dos cidadãos com mais de 80 anos, exactamente aquele grupo que acusava mais de 80 % dos mortos. Bastar-lhe-ia copiar o programa que outros países com critérios de prudência e de bom senso haviam já efectuado antes mesmo do verão. E o que dizer das falhas na sua concepção, que deixou verdadeiros buracos interpretativos conducentes aos abusos vindos a público nos últimos dias, de oportunistas, que supostamente deveriam servir e não se servirem das instituições.

E da triste figura protagonizada por um senhor que foi feito ministro da educação sabe-se lá por que razão, que teve o descaramento de, depois de não ter cumprido a promessa de aquisição de um milhão de computadores para assegurar aulas “on line” no princípio do ano lectivo, proibiu todas as escolas públicas e privadas de qualquer tipo de leccionação e que, com toda a desfaçatez, veio uns dias depois, acolitado pelo primeiro ministro, afirmar que não tinha dito aquilo que disse, autorizando o início das aulas mesmo sem os computadores prometidos.

E que dizer da atitude de hostilização sistemática da ministra da saúde em relação ao sector privado e social da saúde que, por claro preconceito ideológico, deixa sem assistência milhares de cidadãos, provocando um anormal número de mortos não covid, quando se compara com o mesmo período dos últimos cinco anos.

Por muita compreensão que possa este governo merecer face ao dificílimo momento que o país atravessa, a história registará a sua incompetência e os graves prejuízos causados.

Guimarães, 8 de Fevereiro de 2021
António Monteiro de Castro

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