Comemorações do 25 de Abril

Ontem, domingo, dia 25 de Abril, comemorou-se um pouco por todo o país a “Revolução dos Cravos”, designação como ficou conhecido o evento militar e social que ditou o fim do “Estado Novo”,

o qual nascera com o movimento militar iniciado em Braga sob o comando do Marechal Gomes da Costa, em 28 de Maio de 1926, que haveria de conduzir ao poder Oliveira Salazar e que pôs fim a um dos períodos negros da nossa história, ocorrido após a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.

A nível local, promoveu a Assembleia Municipal uma sessão solene que, para além dos dois momentos musicais a iniciar e a terminar a sessão, contou com as intervenções dos representantes das diferentes forças políticas com representação parlamentar e com a intervenção do seu presidente.

A nível nacional, de entre as muitas comemorações ocorridas, merece destaque a habitual sessão solene promovida pela Assembleia da República que mais uma vez contou com a presença das mais altas figuras do estado e com as intervenções dos representantes das diferentes forças políticas parlamentares, assim como do seu presidente e do Presidente da República.

Nestes tempos de provação que o país e o mundo atravessam e em que, corrupção e justiça dominam o debate nacional, a mais esperada, pelo teor da sua mensagem, era a do presidente Marcelo, que mais uma vez veio confirmar a sua alta categoria intelectual e política, trazendo-nos uma brilhante lição de história e relembrando a alguns a forma como a própria história deve ser lida.

Não se limitou à habitual evocação da envolvente histórica que enquadrou a Revolução de Abril. Preocupou-se ir mais além, abordando um tema que, de quando em vez, parece atormentar alguns espíritos traumatizados. O tema da Guerra Colonial.

A sua ascendência familiar e social, fortemente ligada ao antigo regime do Estado Novo por seu pai, Baltasar Rebelo de Sousa, ter sido dirigente da Mocidade Portuguesa e Subsecretário de Estado da Educação nos governos de Oliveira Salazar e nomeado Governador Geral de Moçambique, Ministro da Saúde e Ministro do Ultramar nos governos de Marcello Caetano, não o impediu de entrar nesse difícil período da nossa história e realçar um princípio que parece, quase sempre, esquecido: que não se pode avaliar com os olhos de hoje, muitos dos acontecimentos ocorridos no passado.

Lembrou mesmo, que nós próprios, não deixaremos de ser julgados por muitas das decisões que hoje tomamos e que, à luz de outros valores e padrões do futuro, que neste momento não conseguimos antecipar, poderão merecer veemente condenação.

A nossa história, a de uma das nações mais antigas da europa com quase nove séculos, apesar de contar com episódios de que muito nos orgulhamos, e que contribuíram para a sua construção, fortalecimento e consolidação e que nos colocaram na vanguarda e pioneiros daquilo que hoje designamos por globalização, não deixa de ter outros, que embora devendo ser assumidos, não poderão ser motivos do mesmo orgulho à luz dos valores de hoje.

O que não se poderá, jamais, é tentar reescrever a história, como alguns iluminados da nossa terra, copiando a espuma dos tempos que escorre na pobreza intelectual doutros países, o têm pretendido cá fazer também.

A par destas sessões solenes, tiveram visibilidade as manifestações que decorreram em Lisboa, nomeadamente a polémica à volta da promovida pela Associação 25 de Abril, que não aceitou a participação dos representantes do partido Iniciativa Liberal, manifestando assim, claramente, o seu verdadeiro conceito de liberdade.

Gestos como este, e outros, como o recentemente manifestado pelo partido que ocupa o poder, de nomear, sem concurso e sem vergonha, para um dos lugares da mais alta responsabilidade social e orçamental do Estado, um jovem sem outro curriculum que não o da presença contínua nas hostes da Juventude Socialista e em gabinetes ministeriais, muito contribuem para a alimentação do crescimento do populismo que a todos preocupa.

Votos de que na celebração dos 50 anos da Revolução de Abril, Portugal esteja noutro patamar de desenvolvimento, cumprindo-se assim, finalmente, o seu sonho da concretização dos três dês - Descolonização, Democracia e Desenvolvimento.

Guimarães, 26 de Abril de 2021
António Monteiro de Castro

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