Seria expectável

Em Portugal e a partir de meados do século passado, verificou-se uma progressiva concentração populacional na orla marítima, entre, grosso modo, Setúbal e Caminha.;

ou, mais próximo de nós, entre Aveiro e Viana. Com o correlativo crescimento populacional das vilas e cidades que aí se situavam.
Várias foram e são as causas dessa ocorrência, que, entretanto, não cabe analisar neste texto.

O que interessa anotar é que esse acréscimo de densificação determinou uma quase correspondente ocupação de solos para fins não agrícolas.

Feitas estas observações, cabe lembrar que, desde a sedentarização, as aglomerações urbanas surgiram como, e consistiram em, formas de centralização de trabalho não camponês; e foram possibilitadas em função do aforro produzido, e libertado, pela actividade agrícola, numa precisa fase da evolução do homem (sendo que, qualquer processo material e o das sociedades humanas incluído, está sujeito à complexa evolução sequencialmente consequente de o cósmico, no seu todo ou em qualquer das suas infindas minudências, por o que também se lhes aplica o 2.º princípio da termodinâmica, na entropia).
Assim e por nos serem mais chegados, começamos por lembrar a trajectória dos burgos medievais, aonde se fixavam os artesãos das diversas profissões não directamente ligadas ao exercício exclusivo das actividades rurais e que, consoante os excedentes agrícolas se foram incrementando, eles também foram crescendo, numa tendência que se potenciou com a revolução industrial e, a partir dela, até aos nossos dias, com uma constante ampliação progressiva de algumas áreas urbanas.

O que aliás bem se compreende pela também intensificada e crescente diversificação do trabalho (a que Adam Smith chamou “divisão do trabalho”). Repartição que a partir de certa altura foi sobremaneira acentuada no sector terciário. Fenómeno este que, conjugado com a relação de dependência da oferta face a uma procura que a viabilize, explica a deslocação para, e aglutinação em, centros urbanos. É que aquelas pujantes ramificações de especificidades profissionais, cada vez mais focadas em singularidades que os saberes e a técnica, ou por vezes não só, têm vindo a prodigalizar, pressupõem clientelas sempre mais restritas e, assim, uma certa quantidade de eventuais utilizadores que as permitam sustentar e fazer prosperar (aquilo que, de certo ângulo, se diz como nichos de mercado). Num conjunto que conduz inevitavelmente a um maior estímulo gregário urbano e à sua crescente acentuação.
A crer-se no atrás descrito, uma pergunta que se pode e deve fazer, é a de qual a massa crítica necessária para que uma urbe consiga suportar e sobreviver a essa tendência de fomento das especializações, para manter e, preferivelmente ainda, aumentar a sua população?
Tanto mais que, como se sabe e paralelamente, tem ocorrido a universalização do ensino e a diferenciação deste, formando-se cada vez mais gerações tendencialmente vocacionadas, preparadas e capacitadas para essas novas áreas de trabalho; ou seja e em termos económicos, criar uma procura suficiente para absorver todos os escolares que nelas se pretendam empregar e para que, pela ausência dela, não tenham que migrar. É que, ao não se atingir esse equilíbrio, a fuga deles da urbe torna-se imperiosa e advém rápido em facto consumado. Por outro lado e para uma cidade saudável, deveriam gerar-se condições para se captarem novos residentes e, dessa maneira, somá-los para um concomitante acréscimo de um de leque de novas procuras profissionais. Insuficiência já detectável um muitos lados e que, por isso e por aqui, nos está à frente dos olhos. Por o que conceber uma cidade capaz de conter escoamentos e simultaneamente ser atractiva, é uma tarefa de sobrevivência urbana vital.

Ora para a acima pergunta e no último quartel do século passado, para a Europa, acreditava-se que a resposta andaria ao redor dos 100.000 habitantes.
Nesse sentido apontaram os órgãos municipais vimaranenses nos finais da década de 70, princípios da de 80. Para, logo a seguir, se abandonar essa intenção e se a desviar para uma irracional atomização suburbana pelo município; ordenamento que parece continuar a prevalecer.
Entretanto, são já conhecidos os resultados preliminares do Censo de 2021. Por eles se sabe que o concelho perdeu 1.236 habitantes nos derradeiros 10 anos. Sendo 290 (25,58%) nas três freguesias do núcleo antigo. É evidente que estes números provisórios só por si não significam grande coisa (basta pensar num possível saldo natural negativo; porventura agravado pela pandemia). Mas alguma coisa querem dizer. E a estagnação que representam (compare-se com o caso de Braga; embora aí possam concorrer favorecimentos provindos de orientações da administração central e, sobretudo, de a conservação da divisão distrital, figura administrativa sem correspondência constitucional), não traduz uma qualquer perspectiva animadora.

Não será a hora de repensar a orientação prosseguida?

Fundevila, 23 de Agosto de 2021


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