Os resultados eleitorais e a campanha autárquica

No passado dia 26 de setembro, mais uma vez o povo português se pronunciou sobre os candidatos e programas nos quais pretendia depositar a sua confiança para o governo das suas comunidades

- freguesias e municípios - nos próximos 4 anos.

A vitória eleitoral a nível nacional, sendo claramente do Partido Socialista, já que obteve mais votos, mais câmaras e mais mandatos autárquicos, não deixou de ter o sabor a derrota por ter visto o número de votos cair de 1.876.600 para 1.695.200 isto é, menos 181.400 votos, assim como de ter visto a diferença do número de câmaras que o separava do PSD cair de 63 para 35 e a diferença do número de mandatos cair também de 235 para 117. Para além disso, perdeu municípios emblemáticos como Lisboa, Coimbra, Portalegre e Funchal.

A nível local, poder-se-á também dizer que os vimaranenses reiteraram a confiança no Partido Socialista. Em números redondos o total de votantes caiu de 96.000 para 91.000, isto é, menos 5.000 do que nas eleições de 2017 e, avaliando apenas a votação para a Câmara Municipal, o Partido Socialista perdeu 5.855 votos, o PSD perdeu 5.380, a CDU ganhou 31 e o Bloco de Esquerda perdeu 64 o que dá um total de perdas da ordem dos 11.200 votos dos quais, sensivelmente, 6.000 foram para os partidos Chega, IL e PAN e 5.000 correspondem à redução, já referida, do número de votantes.

A conversão dos votos em mandatos traduziu-se num reforço do número de vereadores do PS na Câmara Municipal, que passou de 6 para 7 e numa redução do número de vereadores da Coligação Juntos por Guimarães de 5 para 4; na Assembleia Municipal o PS com 25 deputados e CJpG com 18, perderam 1 deputado cada, para o Chega e para a IL.

Ao nível das Juntas de freguesia o PS ganha uma, passando das 36 que tinha para 37 à custa da redução da CJpG que passa de 12 para 11.

Em linhas gerais foi este o panorama que resultou da realização do último acto eleitoral autárquico.

Depois de um especial período de vida, fortemente conturbado pela presença de uma pandemia que afectou a vida dos portugueses e dos cidadãos do mundo inteiro, que impôs medidas drásticas de constrangimento ao quotidiano de todos, entrámos no período de campanha eleitoral em que vieram ao de cima algumas das guerras que proliferam na vida interna dos partidos políticos.

Foi como que o “dar tudo por tudo” para segurar posições e precaver hipotéticos desequilíbrios internos nos diferentes partidos políticos. Assistimos a uma nunca vista participação de governantes na campanha eleitoral autárquica, desde o próprio primeiro-ministro a vários ministros, todos parecendo pretender esmagar a oposição.

Desta vez, parecia perdida a vergonha do uso de argumentação insinuando a importância da proximidade dos responsáveis autárquicos junto do governo, mormente neste especial momento de entrada em funcionamento, para breve, do Plano de Recuperação e Resiliência, vulgo “Bazuca”, com as dezenas de milhar de milhões de euros a ele associados. Vimos e ouvimos isso mesmo, dito pelo próprio primeiro-ministro.

Se a nível local são já bem conhecidos os malefícios para o bom funcionamento da democracia, dessa coisa de passar a ideia de que uma Junta de freguesia da cor política da Câmara consegue mais apoio para o desenvolvimento da sua terra, infelizmente, por vezes, parecendo verdade, e até explicar as situações de mudanças de camisola de alguns autarcas sem coluna vertebral, ver agora, essa pouca-vergonha, a funcionar a nível nacional, é degradante.

Não nos admiremos, pois, de ver a abstenção a subir cada vez mais e a ver os partidos extremistas, inimigos da democracia, a proliferar.

Os resultados eleitorais evidenciam também, em Guimarães e no todo nacional, que os eleitorados urbanos são mais imunes a esta dependência do orçamento municipal, constatando-se, a nível local, que as freguesias da cidade como a União das freguesias da Oliveira, S. Paio e S. Sebastião e a freguesia da Costa, serem ganhas pela coligação PSD/CDS perdendo Creixomil apenas por 28 votos.

Neste início de mandato dos novos autarcas vimaranenses, votos de muito sucesso ao serviço da nossa terra e que a concretização dos seus projectos possa colocar Guimarães no patamar que a sua rica história assim exige.

Guimarães, 5 de Outubro de 2021
António Monteiro de Castro

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