Uma questão de pertença

Passaram já mais de duas semanas desde a data das recentes eleições autárquicas e o seu resultado não causou qualquer sobressalto, nem sequer surpresa, como costuma acontecer quando uma eleição traz alteração esperada

ou inesperada ao estado de coisas existente ao tempo do sufrágio.

Aliás, diga-se, não sinto que o referido ato eleitoral tenha sido precedido de uma campanha eleitoral tão vivo e movimentado como os dois anteriores, sinal, porventura, da convicção genericamente instalada de que a vitória de quem ganhou estava adquirida.
Sei que houve campanhas intensas e disputas animadas em algumas freguesias do concelho, de cujos específicos atos eleitorais resultaram, ainda que em reduzidíssimos casos, mudança de protagonistas ou de formação política como consequência da eleição, mas aquela de que ora me ocupo é a que, em termos gerais, mais desperta a atenção, a curiosidade e o interesse da generalidade dos vimaranenses, que é a eleição para os órgãos municipais e, de entre estes, para o executivo camarário.
Como membro do Partido Socialista, vencedor das eleições, e até como seu mandatário na campanha eleitoral, tenho para mim que seria considerado, pelos meus leitores, mais por motivos de adesão partidária, do que por razão assente em análise minimamente isenta, que referisse quais, a meu ver, as causas de o PS não só ter ganho as eleições como ter aumentado o número dos seus eleitos para a Câmara Municipal, ao passarem de seis para sete. Abstenho-me, por isso, de o fazer.
Creio, porém, que não firo tal propósito se referir uma das áreas a que a administração concelhia tem tido particular atenção, com resultados amplamente reconhecidos, nomeadamente através de referências frequentes e reconhecimento nomeadamente a nível internacional, é a do desenvolvimento sustentável, mormente no que respeita à saúde da natureza e, através dela, da saúde e bem-estar dos vimaranenses.

Não pode ser sem razão, nem com base em razões menos boas, que desde 1989 o PS vem ganhando com maioria absoluta as sucessivas eleições para a Câmara Municipal, trazendo a Guimarães um sucessivo e cada vez mais frequente aplauso internacional em vários domínios, assumindo particular relevo os galardões de Património Cultural da Humanidade e Capital Europeia da Cultura.
Mas não se esgotou aí o reconhecimento que nos tem sido dispensado, tal como o que respeita à excelência de destino turístico, de cidade entre as melhores para se viver, das mais acolhedoras para turistas e forasteiros, sendo de realçar o investimento eficaz em trabalho e dispêndio para dotar a nossa terra com um património natural e florestal ecologicamente são e recomendável.
Vem isto a propósito da notícia recentemente veiculada pelo Público, que informa, na sua edição de 09 de corrente, que a revista científica The Lancet Planetary Health, em estudo que estabelece uma relação, a nível europeu abrangendo 978 cidades de 31 países, entre a existência de espaços verdes e a menor mortalidade daí resultante, ou seja, como a área desses espaços influi positivamente na vida e saúde das populações dos municípios em que eles existem, coloca Guimarães sempre nos primeiros lugares.
De acordo com esse estudo, Guimarães ocupa o oitavo lugar e, se se considerarem apenas os municípios com mais de cem mil habitantes, como é o nosso, sobe ao terceiro lugar, tendo à sua frente apenas dois municípios espanhóis.
Mas se forem tidas em conta apenas as zonas oficialmente tidas como espaços verdes e o correspondente benefício para a respetiva população, então Guimarães ascende ao segundo lugar, imediatamente após Paredes, também município português, que lidera.

Não esqueço que para os feitos da nossa terra contribuem de modo muito significativo os vimaranenses, contagiados por uma ideia que vem de há décadas mas tem sido desenvolvida, explanada e exponenciada particularmente nos últimos dez a doze anos por aqueles, políticos e técnicos, em cujas mãos se encontram depositados, como o foram mais uma vez no dia 26 de setembro passado, os destinos do concelho, que é o mesmo, e sobretudo é o mesmo que dizer, dos homens e das mulheres que nele habitam e, mesmo quando críticos, de há muito se tomaram de amores pela sua terra, com uma intensidade e com um afeto que dificilmente se vêm em gente de outras terras, sendo desse amor pela própria terra que também é feita uma certa inveja pela pertença a Guimarães, que não raro se deteta em quem a Guimarães não pertence.

Guimarães, 12 de outubro de 2021

António Mota-Prego
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terça, 12 outubro 2021 18:02 em Opinião

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