Transportes públicos e eleições legislativas

1. A anunciada ”revolução dos transportes públicos concelhios” está no terreno desde o princípio deste ano tendo suscitado algumas reações no tocante a horários, itinerários

e falta de informação em geral.

Pela importância que assume ao nível económico, social, ambiental e de coesão territorial, foi tema que ao longo dos oito anos de vereação nos mereceu uma boa meia dúzia de intervenções.

Na verdade, tínhamos dificuldade em ouvir os responsáveis políticos por este importante sector das competências municipais, gabar-se de que os transportes urbanos em Guimarães, os TUG, eram praticamente autossuficientes, enquanto outros municípios vizinhos gastavam milhões de euros por ano. Isto, quando o sector da cultura, importante, naturalmente, mas direccionado para uma elite, absorvia do orçamento municipal mais de quatro milhões de euros por ano.

Era ignorar os profundos malefícios e as graves consequências que tal atitude estava a ter na vida de todos os vimaranenses, de modo especial nos mais carenciados.

No início do segundo mandato como Presidente da Câmara Municipal, o Dr. Domingos Bragança, sensibilizado para a importância deste sector, encomendou a um dos mais reputados especialistas nacionais o projeto para os transportes públicos do concelho que viria a permitir o lançamento de um concurso internacional.

Apontava tal projecto para um custo de trinta milhões de euros ao longo de 10 anos que acabou por vir a ser adjudicado, sensivelmente por metade desse preço, a uma empresa vimaranense. Por se tratar de um dos investimentos com maiores repercussões no desenvolvimento e projeção do nosso concelho deverá merecer especial atenção com vista a ser completamente bem sucedido.

Torna-se, pois, fundamental, incrementar de forma acelerada a sua utilização, de modo a termos, o mais rapidamente possível, os autocarros cheios e as ruas e estradas com menos automóveis. Para isso propôs o vereador Bruno Fernandes, na última reunião de Câmara, transportes gratuitos para menores de 18 e para maiores de 65 anos.

Na verdade, penso que a importância da aceleração do projecto com vista a obter os ganhos pretendidos em termos económicos, sociais, ambientais e de coesão, assim como o elevado investimento já efectuado, dever-se-ia, durante um período de alguns meses, ter transportes completamente gratuitos para toda a gente, provocando nos vimaranenses a sua utilização. Seria repetir a experiência já efectuada, com sucesso, nos parques de estacionamento do estádio e, mais recentemente, da Caldeiroa, habituando as pessoas à sua rápida utilização, deixando o automóvel em casa.

2. Depois de ter anunciado ao país, a 4 de Novembro, a dissolução da Assembleia da República no seguimento do chumbo do orçamento para 2022, o Presidente da República procedeu à sua dissolução no passado dia 5 de Dezembro e à convocação de eleições legislativas para o próximo dia 30 de Janeiro.

Passado o tempo festivo da quadra natalícia teve início o período da pré-campanha preenchido sobretudo com os debates televisivos entre os líderes de todos os partidos com assento parlamentar finalizado com um debate conjunto de todos os restantes partidos.

Tal como confirmam as audiências dos debates, a registar valores nunca antes atingidos, na ordem de um 1.500.000 chegando mesmo a 3.200.000 no debate realizado entre António Costa e Rui Rio, ficou claro o interesse manifestado pelos portugueses e a sua preocupação com o futuro.

Apesar de terem sido debates curtos, com apenas 25 minutos, à excepção do que opôs António Costa a Rui Rio, contribuíram para o esclarecimento das ideias e das principais medidas programáticas de cada um deles.

Ficaram claras as diferenças entre os dois principais protagonistas candidatos a primeiro-ministro. No respeitante à formação de governo, Rui Rio, com toda a frontalidade que lhe é reconhecida e sem filtros, e em consonância com aquilo que tem sido a sua prática política ao longo destes anos como líder da oposição, pondo sempre o interesse do país acima do interesse do partido, esclareceu que, em caso de derrota, não deixaria de contribuir para uma solução governativa estável do PS, não votando contra os orçamentos de estado. Em caso de vitória, formaria um governo de coligação com o CDS e com a Iniciativa Liberal, esperando do PS idêntica posição.

António Costa, o estratega das pontes e das maçanetas, deixou claro, desde a primeira hora, que pretendia a maioria absoluta, não estando disposto a negociar, nem à esquerda nem à direita e, caso perdesse as eleições, deixaria a liderança do partido. Esta sua verdadeira face de democrata, respeitador da vontade soberana do povo mereceu, face às últimas sondagens, uma mudança radical de rumo, afirmando agora que está disponível para negociar com todas as forças políticas à excepção do Chega, disponibilizando-se mesmo para uma nova geringonça.

Quanto às medidas programáticas prioritárias, Rui Rio propõe tirar o país da estagnação económica em que se encontra, ultrapassado em termos de crescimento por quase todos os países da União Europeia, promovendo a criação de riqueza pelo investimento, através de uma política fiscal amiga das empresas, apostando sobretudo na descida do IRC para, numa fase posterior, haver condições para uma digna distribuição da riqueza criada e para um alívio da carga de impostos, de modo especial do IRS.

António Costa, propõe o método do passado, isto é, crescimento económico através da dinamização do consumo, baixando para isso o IRS às famílias, ou seja, distribuindo riqueza obtida com base no endividamento estrangulador das gerações futuras.

Apesar dos constrangimentos pandémicos e da pouca lucidez para a solução encontrada, votos de que todos participemos nas eleições do próximo domingo e que Portugal possa encontrar um rumo digno da sua História.

Guimarães, 25 de Janeiro de 2022
António Monteiro de Castro

Imprimir Email