Estado da saúde no século XXI debatido no Med Start – Congresso Nacional do Interno de Formação Geral

É preciso "reavaliar o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde por não estar a corresponder aos anseios dos jovens médicos e da população que serve". O alerta foi deixado pelo Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, António Araújo, em declarações prestadas à margem do debate «Saúde no século XXI», realizado neste último dia de trabalhos do Med Start – Congresso Nacional do Interno de Formação Geral, organizado pela primeira vez em Guimarães, no Centro Cultural de Vila Flor.

"Estamos a viver tempos difíceis na saúde, não só por causa da pandemia, mas também porque temos um défice muito grande de liderança. Essa liderança reflecte-se como é evidente na actuação das Instituições e na actuação dos profissionais de saúde. Estamos muito preocupados com a saída de grande número de profissionais de saúde para o sector privado, a preterir o Serviço Nacional de Saúde que sempre foi uma instituição ímpar na sociedade portuguesa e que nos orgulhava a nível europeu e mundial. Vê-los sair para o sector privado é algo que nos deixa preocupados. Acho que está na altura de tentarmos reavaliar o funcionamento do SNS, o porquê de não estar a corresponder aos anseios de jovens médicos, até porque ele não está a corresponder aos anseios da população que serve", afirmou António Araújo, defendendo uma reavaliação para "encontrar soluções que dignifiquem o SNS e possam permitir responder a esses mesmos anseios da população e dos profissionais de saúde".

Em representação do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Fábio Borges partilhou as preocupações manifestadas pelo responsável da Ordem e as suas repercussões no futuro do Serviço Nacional de Saúde. "Preocupa-nos que os médicos não queiram continuar no SNS. Se a pandemia veio agravar muitos problemas, eles já lá estavam. Para quem está dentro do serviço, os problemas já existiam e a pandemia apenas os agravou", insistiu, referindo-se às condições que são garantidas aos profissionais. "Não só remuneratórias, mas também as condições de trabalho, a organização, situações que há muitos anos reivindicamos e que queremos ver negociadas, mas que infelizmente têm vindo a ser adiadas, sempre adiadas e chegamos ao estado em que os profissionais terminam a sua formação e não querem continuar no SNS, o que é uma preocupação para todos nós", disse Fábio Borges.

Numa alusão ao facto do congresso ser dirigido aos jovens médicos, o representante do SIM sublinhou que "são profissionais que terminaram a formação académica no ano passado, estão a iniciar a sua vida profissional este ano e vão começar a carreira especializada já no próximo - os que tiverem acesso a uma vaga".

O debate dedicado ao tema saúde no século XXI contou com uma intervenção de José Manuel Calheiros. O Professor Jubilado da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior apontou a existência "de uma carga de doença crónica brutal e quem sofre são as pessoas que perdem-se no meio do labirinto dos cuidados e uma estratégia que está centrada na prestação dos cuidados no fim de vida". "Um terço dos portugueses são hipertensos e a sua resolução não vai ser com todos os cuidados sofisticados que a medicina privada oferece; 600 mil têm doença pulmonar obstrutiva crónica. Todos os dias há mais pessoas diagnosticadas com diabetes. Como dizia a Directora da Organização Mundial de Saúde, há quatro factores decisivos na saúde das pessoas e que têm que ter políticas públicas: tabaco, álcool, sedentarismo e alimentação. E eu acrescento a forma como a sociedade olha para a saúde/doença. É mais fácil pegar na doença do que na saúde", avisou.

O Med Start - Congresso Nacional do Interno de Formação Geral reuniu cerca de quatro centenas de participantes em Guimarães, num evento em formato misto, presencial e on-line. O Presidente da Comissão Organizadora destacou a "descentralização" conseguida com este congresso. Gonçalo Torres, interno de formação no Hospital da Senhora da Oliveira, congratulou-se com os apoios obtidos para a realização em Guimarães. "É um congresso de médicos no início de carreira, com um alargado conjunto de actividades que permitiram reforçar competências necessárias ao bom exercício da medicina humana, centrada no doente e atenta à inovação e avanços científicos e tecnológicos, alargando horizontes", observou.

Marcações: CCVF, Serviço Nacional de Saúde, Med Start – Congresso Nacional do Interno de Formação Geral

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