VÍDEO: Conheça o Pregão Nicolino declamado este sábado

As Nicolinas prosseguiram este sábado com um dos números mais emblemáticos, o Pregão de São Nicolau. Em tempo de pandemia, o Pregão não foi proclamado nas ruas como habitualmente.

A crítica satírica dos estudantes fez-se ouvir nos claustros da Câmara Municipal de Guimarães. Marcaram presença na declamação o Presidente da Câmara, Domingos Bragança, e a vereadora Sofia Ferreira, assim como os presidentes da Associação dos Antigos Estudantes do Liceu - Velhos Nicolinos e da ACFN, respectivamente José Ribeiro e Rui Gomes. O Pregão foi ainda declamado na Escola Secundária Martins Sarmento.
O Pregão, que este ano é de autoria de Rui Teixeira e Melo, teve como pregoeiro Pedro Guimarães, aluno do 12º ano da Escola Secundária Martins Sarmento.

Amanhã, domingo, é dia de Maçãzinhas e Danças de S. Nicolau, espectáculo que junta velhos e actuais estudantes vimaranenses e que poderá ser visto online.

Conheça o Pregão 2020:

PREGÃO DA ACADEMIA VIMARANENSE
-----------ÉPOCA BALNEAR MMXX---------


Dedicado a título póstumo ao Zé Maria Magalhães


Enquanto em Guimarães houver um estudante
Que sinta o peito arfar de vida palpitante,
Há-de realizar-se a Nicolina festa
Embora exista ai quem diga que não presta;
Para assim espalhar, da fama, aos quatro ventos,
Ao clamor infernal dos nossos instrumentos,
Que na Pátria de Afonso, se os anais não mentem,
Há cérebros que pensam, corações que sentem.

Jerónimo de Almeida – Pregão de 1919

Nicolinos, meu povo, estudantada
Já flutua o académico estandarte
Guimarães acordou mais animada
Sabendo do Pregão seu baluarte.
Batia uma saudade desgraçada
De cantar Guimarães, de recitar-te,
Pois poesia és cidade amada,
Eu te vou apregoar por toda a parte.


Ser Nicolino hoje é um orgulho
Feito de secular nobre pujança,
Pois o que importa não é o embrulho
Mas o coração que aqui dentro dança.
Quem alvitrou o último arrulho
Destas Festas que animam a lembrança
Vá procurar no caixote do entulho
Quem tenha dado tão falsa ordenança.


Nicolau do trono hoje decreta
Que se façam as Festas costumadas.
Se a forma não for a predilecta,
A substância fá-las aclamadas.
O que hoje não podes fazer em recta
Farás em trajectórias mais curvadas.
De Cupido, de longe, irá a seta
Dirigida às belas, nossas amadas.


A festa é tua e ninguém ta tira
Mas preciso se torna que a estimes.
Honrar Nicolau é a tua mira
De bons feitos e milagres sublimes.
Já não há ninguém que não a refira
Como Festa urge que a legitimes.
Não tentes nada que a Festa fira,
Pois és tu que o futuro defines.


Não há vírus que me cale, que me tolha
Que me faça suar ou que me estique.
No Pregão nem sequer a chuva molha
Tenho remédio do alambique.
Se vieres por aqui faço-te a folha
Dou-te uma varada vais de repique
Vai-te embora não há quem te acolha.
Percebes ou queres que te explique?


Estudantes dessa Guimarães de outrora
Velhos, mais novos ou de meia-idade:
É tempo de Nicolau, é a hora,
Estudantes não há só na Faculdade.
Nicolau precisa de ti agora!
A festa erguemos, Sua Majestade.
Futrica melhor é ires embora
Porque o chafariz já tem saudade…


Vai já daquela cidade abaixo!
Não consente o Pregão a futriquice.
Cala-te e ouve, sossega o facho
Que falar alto hoje é estultice.
Vai p´rá feira fazer teu cambalacho
Ou uma qualquer outra mariquice.
Vai ver a estação de Queluz de Baixo
Ou aquele Big que é uma tolice.


(O futrica é um estranho bicharoco.
Ainda não sei se é vírus ou bactéria.
Sei é que abano e tem o crânio oco
E dele nestas Festas faço miséria.
Animal fedorento e bacoco
Cuja inteligência foi de férias.
De vez em quando aplico-lhe um soco
Quando quer entrar nestas matérias.)


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A Academia hoje tem destaque
Até pensei vir a ser um blogger
Andar por aí, beber um conhaque
Fumar charuto, andar de chauffeur.
No Tik Tok eu já fiz um forte ataque
Fiz uma Insta story aparecer…
Mas minha mente fez um tiquetaque:
Para quê se sou um influencer!


A Academia é muito à frente
Lê o futuro, faz adivinhação.
De máscara apareceis no presente
Há muito a usamos no Pregão.
Por culpa de algum tonto ou demente
Que findar pretendeu esta função.
Agrilhoar o Pregão ninguém tente
Pois pode experimentar um safanão.


As musas gloriosas de antanho
Que saiam do oblívio votadas.
Neste Pregão eu quero ver se amanho
Os melhores versos e rimas esgalhadas.
Por Nicolau eu até me esgadanho,
E se elas estão mal acostumadas
Sai sarabanda de tal tamanho
Que deixará as musas envergonhadas.


A Academia faz jus à Tradição
O Pinheiro sem cortejo foi erguido
As Posses, as Maçãs e o Pregão
Saem, mas com menos alarido…
Sossegue o edil, sossegue cidadão
As Roubalheiras serão sem ruído.
Sem Moinas e o Baile à condição.
O vírus não vem. Eu não o convido.


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Ir às aulas é corajoso acto
Aqui deixo lavrado o queixume.
Doentes e infectados é mato
Voltem as aulas como de costume.
Com os infectados é outro o trato.
Se queres aulas só tens pelo zoom.
E em casa quando estás no recato
Trabalhas pelo google classroom.


Nem podes ir à casa de banho
Nos intervalos, firme aguenta.
Têm cinco minutos de tamanho
E em nova aula teu rabo assenta.
Desinfectar marcadores é estranho
Parecem benzidos com água benta.
Se o fazemos com mais arreganho
Nem sequer escrevem quando a gente tenta.


No Liceu já entramos separados
O convívio quase desapareceu.
No curto intervalo dás recados
Mal saíste já o tempo ardeu.
Todos os dias são novos mandados
Nas ordens já a gente se perdeu
E aqui estamos nós os desgraçados:
Que Educação que o Estado nos deu….


Para a Escola haja medida profilática!
Abrir ou fechar venha a solução.
É que com esta conduta errática
Estudar é difícil! Assim não!
Vai mal, vai torta e é problemática
Assim vai no País a Educação.
Está doente, não está assintomática
Infectada, não cumpre a função.


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Guimarães, berço pátrio, amor meu
Em tuas ruas ninfas se passeiam
Belas com num tempo que se perdeu
Na Mumadona, no Toural campeiam…
Do Largo do Carmo ao meu Liceu
Guimarães és bela, outras anseiam
Noutros lados em tuneis se meteu
Outras coisas “desbragadas” que desfeiam…


Quanto à cultura a coisa andou mal,
O vírus deixou tudo num tormento.
Marcou-se o concerto, o recital…
E lá vinha mais um cancelamento.
Um actor no Carmo, outro no Toural
Podiam cumprir o distanciamento.
A saída para o vazio laboral
Foi filmar em pleno confinamento.


Tudo simbólico é como vês
Nos concertos, pequenos festivais
O septeto era feito por três
Porque a lei não deixava haver mais.
O Jazz foi difícil naquele mês
Teve lugar a horas irreais
Sons de clubes nocturnos se fez
No Vila Flor a horas matinais.


E o Rodrigo, Nicolino de gema
Abandonou terras de Mumadona
Para brilhar nas telas de cinema
E sacar mais uns prémios em Girona.
Do documento Nicolino tema
Foi pai, saiu da sua excelsa mona
E agora a Surdina é o seu lema
Com o Tó Trips a tocar na “sanfona”.


Outras comédias no pavilhão
Com personagens de partir a moca
E que juntaram uma multidão
P´ra verem duas pessoas à coca.
No Paço foi tema de reunião
Palco de bocas em acesa troca
Pois do burgo essa Oposição
Tornou azeda a Mais Doce Pipoca.


Nas redes sociais o espalhafato
Veio a crítica do ajuntamento
Teve honras de TV e foi chato
Ver o povo a falar com espavento.
O Bragança que é um homem sensato
Lá entendeu que era o momento
E para não ficar mal no retrato
Suspendeu todo e qualquer evento.


À conta do raio da pandemia
Palavra de ordem é reinventar.
Se dói a cabeça ou tens azia
P´rá Saúde vinte e quatro é ligar.
Queres consulta para o mesmo dia
Para o Centro de Saúde é telefonar.
Prepara um penico e uma pia
Para o tempo que tu vais esperar…


Não fiques chateado que nem fera
Que a seca a mente não te tolde
Se ouves sua chamada está em espera
Ou em bom inglês your call is on hold…


Paciência também mal não fazia
A quem no Centro Histórico ataca.
É que o chinfrim e a pancadaria
Nas praças à noite pegou de estaca.
Haja senso vivamos em harmonia
Bebe um copo e não armes barraca.
Ser civilizado não tem mestria
Ainda que te cortem na casaca.


Liberdade de circular? É mito.
O Alfa já das linhas foi cortado.
O alfacinha, lisboeta aflito
Não pode estar bem aconselhado.
Será uma bênção, feito bendito
Para o nosso burgo bem amado
Que prescinde do alto veredicto
De quem em Lisboa vive sentado.

A alta velocidade está a chegar
E o edil a proposta sufraga,
O Tramway é rápido, a esgalhar
Uma vez que o pendular já naufraga.
São novidades frescas de pasmar:
Afinal o Metro Bus é a paga.
E leva-me Bragança a questionar
Queremos chegar rápido a Braga?

Sobe a discussão do Rio Vizela
Poluído como qualquer lixeira.
Leiam isto! Não é uma pagela.
Acabem lá com essa brincadeira.
Esse rio não é qualquer gamela
Não pensemos duma forma ligeira
A água parecer uma aguarela
É coisa que não queremos à beira.


Borla! Bragança vem anunciando:
É aparcar na Rua de Camões.
Por lá o cidadão vai estacionando
Num parque sem infiltrações.
Se queres um lugar vai esperando
Até ao calor do Verão, em calções.
Desse parque eu quero um comando
P´ra estacionar das Maçãs os camiões.


São filas, estrangulamentos e bichas
De manhã na rotunda da auto-estrada.
Quando um café ainda escorropichas
Há quem tenha a vida atrapalhada.
Ao fim da tarde tu também te lixas,
Essa saída da cidade atravancada.
Eu cá não aposto as minhas fichas
De em Fevereiro ter a obra acabada…


Bragança, Bragança, ó meu amigo
Tanto tempo adiaste a solução.
Achas que merecemos o castigo
De andar sempre com as calças na mão?
Promete que antes de ir para o jazigo
Sairemos do burgo de avião
Segreda-me aqui que eu não desdigo
Essa obra termina antes do Verão?


Vai descansado, ó Doutor Bragança,
P´ra o ano outro virá em meu lugar
Seja alto, “piqueno” ou com pança,
Seja o senhor ou outro…. Vai levar!
Basta que esteja na governança
Na nossa terra haja de mandar.
Essa é do pregoeiro a herança
Somos leais, mas não vamos calar.


**********************
Vitória fizeram-te maldade
Puseram na gestão do balneário
Um Tiaguinho da nossa idade…
Ou melhor… a sair do infantário.
Pinto Lisboa, diz-me a verdade:
Foste buscar o Mister ao fraldário
O Tiago porquê? Que crueldade…
Um rapaz na idade do armário…


Ainda bem que o caminho arrepiaste
Contratando um homem mais jeitosinho.
Venha um avançado que nos baste,
Pois o Duarte não faz tudo sozinho.
Eu sei que és bom rapaz, não és um traste
Mas somos o clube maior do Minho
Essa asneira que fizeste, gravaste?
O Vitória na Europa é o caminho.


Vêm tempos de responsabilidade,
Pois de nós próprios donos vamos ser.
Espero é que a compra dessa SAD
Não engane, não deite tudo a perder.
Meu caro, é outra realidade,
É que só de ti vamos depender
Mas não penses que é a tua herdade
Cá estamos p´ra apoiar e para ver…


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Porque partiste nosso Zé Maria?
Tu eras dos nossos. Fazes cá falta.
Teu conselho, tua sabedoria
Ia sempre buscar a nossa malta.
E de Triumph andaremos um dia
Longe desta terráquea ribalta
Para gajo dessa categoria
Até o firmamento Deus asfalta…


E fica aqui esta minha promessa
A ela o Nicolino não se furta:
Nesta Festa sempre fogo na peça
E não virá ninguém de calça curta!


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Em Portugal está tudo fechado
Com nossos governantes já não contas,
De alerta ou emergência vai o Estado
E eles aí… como baratas tontas.
A pandemia foi só mais um dado.
Fartos estamos de tantas afrontas.
O F.M.I. pusemos de lado
Mas é difícil segurar as pontas.


Logo em Março estourou o Corona
E a seguir veio o confinamento,
E para quem queria andar na zona
Breve foi decretado isolamento.
Ainda assim essa malta refilona
Fez festas Covid de ajuntamento
Pois para essa malta brincalhona
Mais valia ter logo o sofrimento.


No supermercado era a tourada
Papel higiénico a açambarcar
Parece que à gente confinada
Lhe sobra mais tempo para obrar.
Sofre mais a economia desgraçada,
Cafés e restaurantes a fechar
O barulho não adianta nada
As ordens vamos ter que acatar.


No meio disto nada se passou.
Mas houve um caso surrealista:
O Avante que se realizou
Com discursos, som e fogo-de-vista.
Ao Comité Central o mal não chegou?
Perdoem-me, meus caros, que insista.
Teu evento o Governo cancelou?
Inscreve-te no Partido Comunista!


E o resto é o que vamos vendo:
Partidos na TV a perorar,
Infectados do Covid em crescendo
E a vacina que tarda em chegar.
O que podia ser um ano estupendo
Nas lonas o País está a deixar
Vai-te ó dois mil e vinte, ano horrendo
Dois mil e vinte e um estamos a ansiar….


Nada de novo cá em Portugal:
O Costa já para casa nos manda,
Do Rio não há letra no jornal,
Pois é o Jerónimo quem comanda.
Os heróis residem no Hospital
Sem descanso, o Covid não abranda.
Só se lembram quando estão muito mal
Do pessoal médico na demanda.


Brasil e América foram espanto
A mal lidar com esta “gripezinha”
Cobriram as Nações com negro manto
Com lábia populista e mesquinha.
Ao Trump deu-lhe o último quebranto,
Do Joe Biden forte “levou na espinha”.
P´ra o Bolsonaro virá outro tanto
Nas próximas eleições se adivinha.


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Hoste Nicolina, ó força armada!
Vou findar já vai longa a sabatina
No instrumento dai forte pancada
Fazei um Tik Tok p´rá menina.
Esta Festa está a ser esforçada
Bravos, enverguem capa e batina
Logo virá melhor temporada
E faremos uma moina Nicolina.


Levantai-vos, aprestai a baqueta
Bombo no ritmo, caixa a condizer.
Nesta função ninguém se intrometa
Não deixem as peles arrefecer.
O gargalo deixai, essa chupeta,
Tendes muito tempo para beber.
Agora mostrai ao nosso Planeta
Que o vírus é coisa p´ra esquecer.


E quem anda por aí que embarque
Nesta Nau de Nicolau imponente
E saia o toque em feroz ataque
Marchemos ao ritmo do som potente.


XXIX Post Kalendas Novembrii,
Rui Teixeira e Melo


Por analfabetismo do autor este não escreve na actual grafia.
Pedimos desculpa pelo incómodo.


A Comissão de Festas.
Agradecimentos: ao Comércio de Guimarães cuja porta nunca se fechou ao autor.

 

 

 


Marcações: Festas Nicolinas, Pregão

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