Reabilitação do Castro de Sabroso permitirá acolher visitantes no próximo Verão

O Castro de Sabroso vai poder acolher visitantes a partir do próximo Verão, estando a decorrer obras de conservação e restauro naquele sítio arqueológico, localizado em Sande São Lourenço.

Para assinalar o Dia Internacional de Monumentos e Sítios que se comemorou ontem, 18 de Abril, a Sociedade Martins Sarmento promoveu uma visita às ruínas do povoado fortificado, habitado na segunda metade do I milénio antes de Cristo, com uma extensão de cerca de três hectares. 

Orientada pelo arqueólogo Gonçalo Cruz, a iniciativa serviu para antecipar o "perímetro visitável" daquele castro, classificado como monumento nacional desde 1910. "É um povoado que conserva particularidades da sua arquitectura original. Começou a ser escavado por Francisco Martins Sarmento no século XIX e que não passou por outro momento de intenso interesse por parte da comunidade arqueológica, embora vários investigadores se tivessem debruçado pelo castro de Sabroso. Nunca houve um investimento como o que está acontecer agora", esclareceu, ao referir-se à intervenção iniciada este ano financiada pelo Município de Guimarães, com o apoio da União Europeia, através do FEDER, no âmbito do Programa Operacional Regional do Norte, Norte 2020, num investimento que totaliza 218 mil 539 euros. A execução, adjudicada à empresa Era Arqueologia S.A., está a ser acompanhada pela Sociedade Martins Sarmento e pelo Município de Guimarães.

Já foi colocada uma vedação em volta da área protegida, a limpeza das ruínas arqueológicas visíveis e respectiva conservação preventiva, O projecto contempla a colocação de sinalética informativa e algumas estruturas que vão proporcionar maior comodidade aos visitantes do monumento. 

Situado numa pequena elevação, sobranceira ao vale do rio Ave, o Castro de Sabroso é praticamente vizinho dos terrenos do Avepark e ficará permanentemente aberto ao público.

"A possibilidade de garantir a abertura ao público é uma ambição com muitos anos da Sociedade Martins Sarmento", realçou o Presidente daquela Instituição, acrescentando que "é um projecto de várias anteriores direcções que finalmente se conseguirá concretizar". 

Antero Ferreira perspectiva que a abertura ao público possa ocorrer no próximo mês de Julho. "O castro ficará vedado e terá dois acessos pedonais, ficando assinalado um circuito para os visitantes. As pessoas terão sinalética com informações que servirão de orientação, podendo o percurso ser feito de forma autónoma e decorrer livremente, respeitando a dimensão patrimonial deste espaço", justificou o responsável. "Está tudo vedado para evitar o acesso de veículos motorizados", admitiu, insistindo na importância de respeitar um espaço que outrora acolheu um povoado.

Nos últimos anos, o sítio arqueológico tem recebido várias acções de limpeza florestal, promovidas conjuntamente por diferentes instituições, nomeadamente o Município de Guimarães, proprietário dos terrenos, a Sociedade Martins Sarmento, entidade responsável pela gestão do espaço, e pela Junta de Freguesia de Sande São Lourenço e Balazar. Desde 2020, a limpeza da vegetação tem sido assumida pelas equipas da Vitrus.

Os esforços empreendidos para a recuperação deste monumento arqueológico contam com a colaboração da Universidade do Minho, bem como do Laboratório da Paisagem que editou recentemente um Plano de Gestão da Flora Invasora do Castro de Sabroso, resultante da avaliação efectuada ao coberto vegetal dos terrenos, que se caracteriza pela presença de espécies infestantes, como os fetos que, nesta época do ano, cobrem as estruturas do povoado antigo.

A Vice-Presidente do Município acompanhou a visita e destacou o interesse deste recurso existente no concelho para a diversificação da oferta turística. "Guimarães é um território em que o património cobre diferentes épocas. Este castro permite recuar ao período que antecedeu a romanização, o que é muito relevante", assinalou Adelina Paula Pinto, apontando para a proximidade do Avepark onde brevemente será instalado o supercomputador Deucalion. 

"Conseguimos preservar e valorizar a nossa herança, as nossas raízes, sem descurar a contemporaneidade e o avanço tecnológico", sustentou.

Tal como a Citânia de Briteiros, que dista cerca de 2,7 km de Sabroso, em linha recta, o Castro de Sabroso tem um lugar destacado na História da Arqueologia Portuguesa, porque constituiu um campo de experimentação dos primeiros trabalhos arqueológicos de vulto em Portugal. Francisco Martins Sarmento realizou campanhas arqueológicas em Sabroso em 1877, 1878 e 1883. O Castro de Sabroso foi classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910.

O espaço interior do antigo povoado é delimitado por uma linha defensiva formada por duas muralhas distintas, construídas em pedra. Nos pontos de maiores dimensões, a primeira muralha atinge uma altura de 5,20m, e uma espessura de 4,20m, fazendo desta construção uma das mais monumentais muralhas do período pré-romano que conhecemos no Norte de Portugal. No interior do recinto delimitado pelas muralhas são visíveis construções circulares, que ocupam o espaço de forma relativamente densa. Foram também identificadas três estruturas rectangulares, duas das quais integram um conjunto que tem sido interpretado como uma cisterna. 

No topo da elevação distinguem-se vários conjuntos de gravuras rupestres, junto ao marco geodésico, que ficarão assinaladas no circuito dos visitantes. A observação do vale e a sua utilização por parte dos habitantes do castro, a ligação com a Citânia de Briteiros, a muralha, as diferentes fases de construção do povoado, a arquitectura doméstica e a economia praticada são outros aspectos que ficarão sinalizados.

Marcações: requalificação, Castro de Sabroso

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