Miguel Pinto Lisboa abordou efeitos da pandemia no Vitória: "Não foi fácil, continua a ser difícil e será desafiante, mas queremos ser mais pujantes"



O presidente do Vitória, Miguel Pinto Lisboa, desafiou o Governo a apoiar o futebol profissional a sair do cenário de crise criado pela pandemia.

O dirigente integrou o painel do debate 'O Desporto: Que futuro?', promovido pela Tempo Livre, em que também marcaram presença Ricardo Costa (Vereador do Desporto da Câmara Municipal de Guimarães), Miguel Laranjeiro (Presidente da Federação Portuguesa de Andebol) e Pedro Dias (Director da Federação Portuguesa de Futebol).

Na sua intervenção, Miguel Pinto Lisboa garantiu ainda o compromisso do clube ser mais pujante no pós-pandemia.

"Como todos nós sabemos, o futebol profissional em Portugal, fruto de sermos um país periférico e uma economia pequena, é na sua essência deficitário, ou seja as receitas operacionais, que decorrem da quotização, bilhética, marketing, sponsorização e do corporate, são sempre inferiores aos custos operacionais. Para fazer face a esse défice crónico temos de apostar sempre na formação e exportação de talento. São estas receitas ditas extraordinárias que temos de tornar sempre em receitas correntes nos clubes, que fazem com que anualmente se atinja o equilíbrio na nossa actividade e se possa manter a competitividade do futebol profissional".

"A pandemia teve um impacto em toda a sociedade e também a indústria do futebol. Por um lado, as receitas operacionais caíram de forma significativa, no caso do Vitória a quebra é da ordem dos 53%. Por outro lado, com o encolhimento da economia, houve um estreitamento do mercado de transferências e houve um desequilíbrio maior na contabilidade dos clubes. Os custos operacionais, que na sua maior percentagem resultam dos custos com os planteis, não são de fácil ajuste no curto prazo. Os custos operacionais foram aumentados por termos mais custos associados à manutenção da actvidade num contexto covid. Tivemos que fazer um investimento em medidas de higienização mais apertadas, maior número de balneários utilizados por cada equipa, e também com os testes covid, que no caso do Vitória reflectiram-se num acréscimo de cerca de 300 mil euros dos custos".

"Neste contexto de crise nunca pudemos de deixar de fazer face às nossas responsabilidades, quer com os nossos funcionários, como também com os impostos. Desde Março, neste último ano, já pagamos cerca de 7 milhões de euros em impostos directos e indirectos. Também tivemos de fazer face aos seguros desportivos, que têm um impacto muito grande nas nossas contas, de cerca de 1.5 milhões de euros".

"Neste contexto de pandemia, interessa saber qual será o apoio que os clubes terão do Governo. O futebol tem um peso para o PIB de cerca de 550 milhões de euros e é um contribuinte líquido com cerca de 150 milhões de euros anuais em impostos. Até agora, a única medida de apoio que nos foi dada a conhecer não se dirige ao futebol profissional, mas ao desporto amador, num montante de 65 milhões de euros que podemos entender mais como um slogan político do que como um apoio efectivo à actividade porque fica muito aquém do necessário para que a retoma seja pujante e efectiva. Ainda bem que no âmbito destes debates estará aqui o senhor Secretário de Estado, pode ser que nos consiga, em primeira mão, dar conhecimento de algum apoio que esteja previsto por parte do Governo para o futebol profissional. Não podemos continuar a ser discriminados negativamente. O futebol profissional tem um peso no PIB, tem um contributo para o bem estar das pessoas e para o desenvolvimento da economia. Não podemos, uma vez mais, ser discriminados negativamente. Entendemos que o Governo deve olhar apoiar o futebol profissional. Se não quiserem apoiar directamente, pelo menos que o façam indirectamente, criando factores de maior competitividade para o futebol português. Temos uma carga fiscal para os nossos profissionais superior à de outros países europeus e isso tem um impacto negativo na nossa competitividade, porque nos obriga a exportar talento numa fase precoce porque não conseguimos ser competitivos em termos salariais. É importante que possamos ser mais competitivos para valorizar mais a nossa actividade e assim exportar o nosso talento a preços mais importantes do que tem sido possível".

"Em termos de fiscalidade, seria importante por parte do Governo que houvesse uma maior celeridade na devolução das verbas. No caso do Vitória, temos enfrentado este cenário de dificuldade com maiores custos e temos cerca de 2 milhões de euros de IVA a receber. Continuamos com atrasos nas devoluções, sempre a levantarem questões. Parece que o futebol é sempre discriminado negativamente. Somos uma indústria regulamentada e temos de ser tratados como as outras indústrias. Não é justo que quando se trata do futebol se parte sempre do princípio que há algo de errado e se protelem as decisões".

"Outras das formas que o Governo pode ajudar a nossa indústria a ser mais competitiva é na revisão dos seguros desportivos. No último ano, o peso foi de cerca de 1.5 milhões de euros. Urge fazer-se uma revisão que é falada há muitos anos. Para nos ajudar a superar esta crise seria importante olhar para aqui".

"Outro tema que deverá ser equacionado e é extremamente importante tem a ver com o valor que se recebe das apostas desportivas. Há estudos de 2018 que revelam que cada jornada da I Liga envolve 300 milhões de euros em apostas, mas na verdade o Vitória no último recebeu pouco mais de 200 mil euros. É um valor residual, que não reflecte o peso dos clubes. Se as apostas existem é porque existem clubes. Uma parte significaiva desse rendimento deve ser entregue aos clubes e isso não tem acontecido".

"Neste contexto de dificuldade é importante que se olhe para as ajudas directas que possam ser feitas aos clubes profissionais de futebol, mas também para as ajudas indirectas que promovam a competitividade. Na verdade, movimentamos um valor significativo do PIB português e somos um grande empregador em Portugal".

"A pandemia teve um impacto na actividade desportiva directa. Temos centenas de atletas que tiveram de interromper a sua actividade e tememos que grande parte desees atletas se percam nesta retoma. Não só porque tenham menos vontade de voltar, mas também porque tenha perdido o tempo de desenvolvimento das suas carreiras. Isso vai ter um impacto nos clubes, mas também na sociedade. Isso terá um custo para a sociedade como um todo".

"A pandemia teve um impacto significativo no nosso associativismo, porque afecta os nossos associados e muitos tiveram dificuldade em manter a relação. Isso tem um impacto significativo no Vitória. Isso não nos impediu, nem nos impedirá de cumprir sempre com os nossos colaboradores, funcionários e atletas".

"É certo que não foi fácil, continua a ser difícil e será desafiante. Mas, a garantia que nós damos é que todos nós, no Vitória, estamos imbuídos no espírito de tornar o desporto e o clube cada vez mais pujantes".


Marcações: Vitória Sport Clube, Miguel Pinto Lisboa

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