Eleições Vitória: Alex Costa assegura que “projecto é independente do ponto de vista intelectual”



Alex Costa garante que se apresenta às eleições do Vitória com um projecto independente do ponto de vista intelectual. Depois de ter anunciado a intenção de avançar com uma lista ao acto eleitoral marcado para 5 de Março, o antigo capitão vitoriano viu a sua candidatura ser associada ao passado, concretamente à gestão de Júlio Mendes e Armando Marques. Numa entrevista ao DESPORTIVO de Guimarães, Alex Costa denuncia uma estratégia para condicionar a sua candidatura e garante que o projecto nasceu na sua cabeça.

O que o motivou a assumir uma candidatura à presidência do Vitória, depois de ter representado o clube como jogador e treinador?: "O que me moveu a avançar é uma coisa que está comigo há muitos e muitos anos, o amor ao Vitória. O Vitória vive tempos difíceis, toda a gente se apercebe que o clube vive uma grave crise financeira e desportiva. Senti que era hora de dizer sim ao Vitória, de amadurecer um projecto que tinha na minha cabeça há algum tempo, reunir as pessoas à minha volta que dessem corpo a uma ideia diferente. Dei o passo pelo amor que tenho pelos nossos associados e fundamentalmente para ter um Vitória que nos orgulhe, que recupere a sua identidade, que acima de tudo seja Vitória".

Uma candidatura aporta sempre riscos, neste caso para a carreira de treinador que vinha a construir e para a imagem que tem junto dos vitorianos…: "Nunca vivi preocupado com a minha imagem. Após 2013, quando terminei a minha carreira como jogador, poderia ter integrado a estrutura do Vitória num quadro bem mais confortável e decidi envergar por outro rumo. Gosto de desafios, de sair da minha zona de conforto, sei que o cargo a que me candidato é extremamente difícil pela exposição mediática. Isso não me faz confusão porque o que me move, o amor ao Vitória, é bem maior do que isso".

A consciência da situação financeira que o clube e a SAD vivem assusta-o no papel de candidato?: "Se estivesse assustado, não teria dado um passo em frente. É uma situação que nos deve preocupar a todos. No universo vitoriano, a preocupação maior é sempre se a bola entra ou não, o que é normal, mas do ponto de vista racional a situação financeira deve envolver todos os vitorianos, todos os que estão envolvidos no processo eleitoral. É importante que todos tragam soluções e que disponibilizemos as nossas soluções para todos os candidatos que se apresentem, porque todas elas serão poucas. O momento que o Vitória vive do ponto de vista financeiro é gravíssimo, isto tem de ser dito. O Vitória precisa de arrumar a casa, de reduzir os seus custos, de ter um projecto desportivo que suporte toda a estrutura em torno da equipa. O caminho que estamos a percorrer leva-nos a um desequilíbrio completo naquilo que é a aposta que fazemos do ponto de vista financeiro e os resultados desportivos que estão a ser alcançados. Todos os vitorianos tiveram acesso às contas e percebem o desequilíbrio que existe. Vamos trabalhar para encontrar as soluções para que o Vitória se reestruture do ponto de vista financeiro mas que possa continuar competitivo porque sem um Vitória forte do ponto de vista competitivo as coisas não se resolverão".

No patamar desportivo, a ambição passa por construir um Vitória europeu, capaz de ser mais regular em termos de resultados?: "Quando apresentamos um projecto desportivo temos sempre a tendência de olhar para o final das coisas e nunca nos preocupamos com o processo. O Vitória tem apresentado planos anuais, varia na política desportiva e financeira e nos mercados. Não há um plano estrutural que comprometa os seus associados, que diga onde queremos estar daqui a cinco ou dez anos. Dessa forma acabaremos com esta volatilidade de resultados, de um ano na UEFA e dois ou três afastados dos nossos objectivos. Para isso, é necessário traçar um plano, fazer uma aposta forte na nossa formação. Isto é um chavão, todos usam a formação como bandeira, mas é óbvio que a formação em um papel fundamental. Temos de criar uma formação de excelência, não podemos perder a supremacia que tínhamos na região. O Vitória tem de investir muito mais na sua formação, nos recursos humanos que vai disponibilizar. Os plantéis têm de ser muito mais curtos para que haja uma transição de escalão, devemos apostar no jovem jogador português, que conheça bem a nossa identidade. Acho que tenho uma vantagem, porque trabalhei muito anos e conheço muito bem a formação do Vitória".

A equipa que reuniu à sua volta dá-lhe as garantias que desejava?: "Se assim não fosse, não estaria aqui. No início do processo, disse que só avançaria se conseguisse reunir uma equipa forte por trás de mim. Os homens têm de ter noção dos seus limites, este não é um projecto de um homem só e para ter sucesso tem de ser um projecto de uma equipa. É importantíssimo ter as pessoas da minha confiança e que aportem confiança aos vitorianos. Parti sempre de um princípio muito simples, se não conseguisse reunir essas pessoas à volta das minhas ideias não avançaria. Mas, como consegui seduzir essas pessoas neste momento tão difícil, decidi avançar. Há muitas coisas em torno do Vitória que têm afastado a massa crítica e devemos reflectir sobre isso. Avanço com muita confiança de que esta é a melhor equipa, com o melhor projecto para convencer os associados".

Nos últimos dias procuraram ‘colar’ a sua candidatura ao passado, concretamente à gestão de Júlio Mendes e Armando Marques. Isso pode condicionar a sua campanha?: "Não vai condicionar, mas não consigo mentir. O que fizeram deixou-me magoado. Se há algo que me dói é a mentira. Eu tenho muito orgulho no meu passado com o Vitória, são mais de 20 anos. Trabalhei com cinco presidentes, respeito-os a todos. Trabalhei com muitos funcionários, treinadores, jogadores e respeito todos. Não contem comigo para baixar o nível, para o vale tudo para chegar ao poder. Este projecto é individual, que se inicia na minha cabeça. Convenci individualmente as pessoas a abraçarem esta ideia, é independente do ponto de vista intelectual, será independente no futuro se os vitorianos acharem que somos os mais capazes. Teremos sempre os associados do nosso lado, seremos sempre muito transparentes. O que fizeram magoou-me porque ninguém consegue lidar com a mentira. Nas redes sociais tudo é facilmente difundido e depois é difícil apagar os boatos. Mas não é algo que me preocupe porque sei perfeitamente qual é o objectivo. Quem projecta isso tem uma segunda intenção, eles próprios sabem que isso é mentira, porque é mentira. Se isto parte de quem está lá ou quer ir para lá, demonstra muito do que é a essência das pessoas e os vitorianos terão de pensar se querem esse tipo de pessoas à frente do Vitória. Comigo, podem contar com respeito e elevação".

Como analisa o mandato de Miguel Pinto Lisboa, que está agora a ser concluído?: "Respeito o presidente Miguel Pinto Lisboa, com quem trabalhei. Não estamos contentes com os resultados que o Vitória foi alcançando do ponto de vista desportivo e financeiro. A gestão financeira é desastrosa. Não quero pessoalizar a coisa, do meu ponto de vista há aqui uma grande incompetência na forma como o Vitória tem sido liderado nos últimos anos, uma falta de preparação tremenda para estar à frente de um clube com esta dimensão. Houve um ziguezaguear de políticas desportivas que me assusta, ora se apostava tudo no jovem jogador europeu, ora se aposta no jogador português. A aposta começou com treinadores muito no início da carreira, depois, passado um ou dois meses, apostou-se em treinadores mais credenciados. De repente, o homem forte do futebol bateu com a porta. Na campanha, o presidente disse que de futebol pouco percebia, mas que se ia rodear de pessoas que percebessem. Quem temos actualmente à frente da política desportiva? Isso assusta-me. Quero que o Vitória seja gerido de uma forma oposta. O Vitória tem sido gerido por um homem só e um homem só comete mais erros, está menos preparado e dificilmente tem sucesso num clube como o Vitória".

Versão completa da entrevista na edição desta terça-feira do DESPORTIVO de Guimarães.


Marcações: eleições Vitória, Alex Costa

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