Director do Servbiço de Psiquiatria do HG defende reflexão urgente sobre suicídios

O fenómeno do suicídio é uma realidade e que muito tem dado falar devido ao número de casos que tem vindo a aumentar. Já não há faixas etárias nem classes sociais, todos estão sujeitos a viver um drama desta dimensão. Mas mais importante do que reflectir sobre os números é procurar encontrar soluções para o problema. Perante a crise económica que atravessa a região, e que contribuiu para muitas destas situações, o Director do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Guimarães sugere que haja diálogo entre diferentes intervenientes.

Para Mário Lourenço é importante que as pessoas aprendam a viver em crise e daí a necessidade de “aparecerem iniciativas no âmbito da educação para a saúde, o que eu acho que é fundamental. Muito mais do que actuarmos nas situações quando elas estão identificadas e resolvermos os problemas das crises, se calhar temos que ir a montante, prevenindo-as e evitar que a médio e a longo prazo estas tendências aconteçam”. É nesta linha de pensamento que o Director de Psiquiatria do Hospital de Guimarães considera muito mais importante agir do que propriamente apresentar números sobre o suicídio na região. Assim, acima de tudo, “era importante começar a juntar os intervenientes, quem se preocupa com este fenómeno, e pôr as pessoas a dialogarem entre si porque muitas vezes os canais de comunicação estão fechados”. Na verdade, quem lida no dia-a-dia com estes doentes, “sente as dificuldades que as pessoas têm para conseguir dar um salto em frente, não voltarem a confrontar-se com o comportamento de auto-destruição porque nem sempre o suicídio é consumado. O que predominam, e as estatísticas vão nesse sentido, são as tentativas”.

De facto, é frequente a pessoa ter um comportamento em que procura atentar contra a sua própria vida e nem sempre consegue. Aliás, muitas das vezes não existe a intencionalidade assumida de querer morrer, “é mais para chamar a atenção. Só que esses sinais de alerta não são levados em linha de conta, não se altera nada no quotidiano e na vida dessas pessoas, por isso os problemas vão-se mantendo”. É por isso que o especialista considera pertinente “juntar técnicos de saúde, políticos, empresários e saber em que medida, face a estas enormes dificuldades que vive o país e em particular esta região, poderemos criar estratégias no sentido de melhorar a qualidade vida, que é tão precária hoje em dia, e saber se as pessoas podem contar com o dia de amanhã”.

Mário Lourenço entende que “pondo estes intervenientes a dialogarem entre si talvez chegássemos a algum consenso. Ninguém tem soluções, não há cartas mágicas que se possam atirar para a mesa, mas não podemos continuar a viver cada um com os seus problemas, isoladamente uns dos outros, e muitas vezes desresponsabilizando-nos, deixando que sejam os outros a encontrarem as soluções para os problemas da vida das pessoas. Isso não pode continuar a acontecer e é altura certa das pessoas reflectirem em comum sobre este problema que é de todos seja através de colóquios, conferências ou debates, algo que mobilize até a comunicação social, porque pode ser um bom parceiro nesta questão”.

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