Associação de Árbitros de Braga dirige carta aberta a Cunha Antunes

A Associação de Árbitros de Futebol de Braga, presidida pelo vimaranense Paulo Jorge Gonçalves, dirigiu uma carta a Cunha Antunes, presidente do Conselho de Arbitragem da A.F. Braga, no sentido de ser esclarecida relativamente a muitas situações de indefinição em torno da classe, motivadas pelo actual quadro de pandemia. O conteúdo da carta aberta é o seguinte:

"Não entendemos o silêncio, o afastamento e a indiferença perante os árbitros, observadores e formadores. Não entendemos a posição da Associação de Futebol de Braga que até hoje não manifestou nenhuma preocupação com os árbitros. Como se os árbitros não pudessem contaminar e ser contaminados pelos jogadores e dirigentes. Estamos todos no mesmo barco e não adianta tentar navegar enquanto uma parte se dedica a criar ruturas na embarcação.

A Associação de Árbitros, em conjunto com os oito núcleos de árbitros, tem acompanhado, com legítima e natural preocupação, o evoluir da situação pandémica e o impacto que tem manifestado em todos os setores da nossa sociedade e, também, no futebol da nossa Associação.
Neste sentido, e querendo fazer parte da solução, solicitamos há já longos meses uma reunião ao CA. Lamentamos ainda não ter havido essa reunião, que vemos como urgente e absolutamente necessária.

Queremos, pois, demonstrar publicamente a nossa profunda insatisfação e indignação perante a atuação do CA da AFB, que ao longo dos últimos meses não tem tido tempo para falar com os árbitros, para reunir com os seus representantes ou sequer construir estratégias e soluções que promovam a salvaguarda de todos.

Todos os árbitros são sensíveis à situação pandémica e às enormes incertezas daí decorrentes. Todos temos sérias dúvidas de como vamos fazer o regresso da atividade desportiva. Deixar nota de que compreendemos que nem a AFB, nem o seu CA, terão respostas para todas as questões. Nenhuma entidade o terá. Nem é isso que pretendemos. Pretendemos, com toda a legitimidade, encontrar soluções coletivas que melhor protejam os árbitros, as suas famílias e o futebol de forma geral.

Alicerçados neste sentido de responsabilidade e também na defesa dos clubes que estão a fazer enormes sacrifícios, temos tentado uma e outra vez reunir com os responsáveis associativos. Temos pedido e outra vez para que possamos juntos construir soluções na defesa de todos. Temos tentado, sem sucesso, ao longos dos últimos meses, reunir com o CA, de forma a esclarecer as muitas questões que inquietam todos os árbitros quanto às medidas de segurança efetivas para poderem exercer a sua função e as condições sanitárias para o regresso à atividade.

Temos tentado uma e outra vez. E não nos cansaremos de tentar. Devemos isso ao futebol e aos clubes, pois todos partilhamos, hoje, das mesmas fragilidades. Mas a verdade é que a nossa preocupação e sentido de responsabilidade não têm tido, neste caminho, companhia dos dirigentes associativos, o que lamentamos profundamente.

Foram marcadas provas para os árbitros, sendo que os mesmos não sabem em que moldes serão feitas, nem as condições de higiene e segurança a implementar. Deram início à atividade dos centros de treino, sem regras nem protocolos sanitários, não tendo os árbitros sequer onde tomar banho, quanto mais onde lavar as mãos.

Estamos sem atividade há sete meses, pedimos uma reunião de trabalho há três meses e apenas obtivemos silêncio. Não temos regulamento de arbitragem, não temos normas de classificação, não temos quadro de árbitros, não temos protocolos sanitários, não temos planos de contingência.

E NÃO, NÃO É POR CULPA DOS ÁRBITROS. Os árbitros procuraram ser parceiros e construir soluções. Mas ninguém manifestou intenção de nos ouvir.

É estranho não é? Querer construir soluções e não ter ninguém do outro lado da mesa para falar? Recordamos, e sublinhamos, que esta é uma luta também na defesa dos clubes, muitos deles “fazendo das tripas coração” para se manterem ativos. 

Deixamos uma pergunta aos diretores dos clubes: que adianta cumprirem as regras todos se depois no fim de semana poderão ter um árbitro desmotivado, não preparado fisicamente ou, pior, infetado?

O que pretendemos é muito simples. E reforçamos o lamento de em meses não ter havido qualquer diálogo connosco quando apenas procuramos construir soluções em conjunto. É tão simples que se resume a reunião com os responsáveis associativos e a construção de um plano que responda às inúmeras questões dos árbitros, de forma a que possamos regressar com segurança. Poderão pensar que esse plano pode não dar resposta a tudo e, até, não responder às alterações que poderão existir amanhã, mas se assim for adaptaremo-lo em função do que aí vier.

Reiteramos a ideia de que estamos ao lado da AFB na procura das melhores soluções. Porém reservamo-nos no direito de toda a qualquer outra possibilidade, incluindo a de não voltar às competições, se isso trouxer para os árbitros, e para o futebol que integramos, sérios riscos de saúde.

As estruturas representativas dos árbitros, tentarão, sempre e em cada momento, zelar pelos interesses dos árbitros e não permitirão que a arbitragem bracarense seja instrumentalizada e desprezada, nem hoje, nem em qualquer outro momento.

Queremos deixar duas mensagens finais. A primeira é a de que estamos disponíveis para trabalhar nas soluções que melhor defendam o futebol distrital. A segunda, é a de que caso não tenhamos respostas concretas às nossas questões e não sejam tidos em conta os interesses e a segurança dos árbitros, não consideramos ter condições para iniciar a época 2020/2021.

Precisamos de respostas. Queremos soluções. Na falta delas, optaremos pela salvaguarda das nossas famílias e não iniciaremos a atividade na época 2020/2021. Disponíveis para o diálogo, mas exigentes quanto aos fins."

A Associação de Árbitros de Futebol de Braga

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