«Creio que seremos capazes de ganhar» - testemunho de emigrante ucraniana residente em Guimarães

Vive em Guimarães há duas décadas, a cinco mil quilómetros de distância da terra em que nasceu e cresceu na Ucrânia. Svetlana Baptista só encontra justificação para a invasão russa com a ambição desmedida do líder daquele País para alargar o seu poder territorial, numa "postura de superioridade e de vaidade" perante o povo ucraniano.

"Geograficamente, a Ucrânia é um país que é uma porta para a Europa e tem muitos recursos apetecíveis: tem mar, tem rios, terrenos muito férteis e um povo muito trabalhador", observou, acrescentando: "Eles querem a Ucrânia toda porque antigamente a fronteira do Império russo era com a Polónia. E sem a Ucrânia não há império", aponta a emigrante que reside em Polvoreira e trabalha numa estamparia do Concelho que escolheu para viver. Aos poucos, trouxe a família mais próxima: primeiro o filho mais novo, depois o irmão e, mais recentemente, em 2015, o filho mais velho já com a esposa e a filha.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, Svetlana Baptista tem acompanhado ao pormenor as movimentações militares, valendo-se das redes sociais e dos meios de informação ucranianos para saber com detalhe os acontecimentos que abalam, sobretudo, Dniepr, onde muitas pessoas decidiram ficar para defender a Ucrânia.

"Quando vejo como está a lutar o meu povo, eu creio, estou confiante que seremos capazes de ganhar porque há muita resistência ao inimigo", manifesta confiante no poder da união do seu povo. "Ai! Ai, daquele que mexer na nossa colmeia. É assim que são os ucranianos. Quando o mal entra na nossa terra, a gente junta-se e vai... Todos lutam, todos ajudam. A capacidade de resistência do meu povo é incrível", alerta, consciente do impacto tremendo causado pela guerra na terra de "um povo acolhedor".

Segundo esta emigrante, neste momento, no concelho de Guimarães residem cerca de quatro dezenas de famílias ucranianas. "Não temos aqui uma sede, mas promovemos alguns convívios e somos gratos à terra e ao povo que nos recebeu de braços abertos. Ajudaram-nos quando chegámos há cerca de 20 anos e continuam a apoiarmos", comenta referindo-se à forma como foi acolhida em Portugal, sensibilizada com as manifestações de solidariedade a que tem assistido, "perante a tragédia que se verifica na Ucrânia". 

"Não sou pessoa de chorar muito, mas nestes dias tenho chorado, porque ver aquilo tem mexido muito comigo. Eles intitulam-se irmãos mais velhos", diz, perguntando: "é assim que os irmãos se tratam? A matar uns aos outros? Qual é o irmão que entra na casa do outro para se apoderar dela?"

Esperando que a paz prevaleça, Svetlana Baptista não esconde que os dias têm sido passados num constante sobressalto. "Há guerra no meu País e isso entristece-me. Mas, sinto uma grande força porque sei que há pessoas dispostas a lutar. Quando os militares reservistas foram chamados aos pontos de registo dos homens, muitas pessoas sem capacidade militar, com limitações físicas, com idade avançada apareceram a pedir para alistarem-se no Exército. Eles pediam para se alistarem com a vontade de ajudar, de qualquer maneira!", assinalou, confiante no triunfo do povo ucraniano num conflito que profundamente lamenta.

 

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