A propósito do centenário da morte do Conde de Margaride

No dia 30 de julho de 1919, a notícia da morte de Luís Cardoso Martins da Costa Macedo, 1º Conde de Margaride, causou profundo pesar em Guimarães. Foi uma das mais interessantes personalidades dos finais do século XIX e início do século XX, uma época em que Guimarães viveu um grande dinamismo político cultural e económico. Nas páginas do centenário jornal O Comércio de Guimarães, a morte do Conde de Margaride não passou despercebida.

Neste dia em que assinala o centenário do falecimento desta personalidade "dedicada a Guimarães", partilhamos excertos das notícias publicadas nos dias 1 e 8 de agosto de 1919.

"Guimarães veste pesado luto pela perda irreparável de um dos seus mais ilustres, generosos e beneméritos filhos - o Conde de Margaride.
Apesar da sua avançada idade e dos seus muitos sofrimentos, a sua morte que correu veloz pela Cidade, a todos contristou e a todos cobriu de luto.

É que o extincto faz falta a Guimarães pelo seu talento, pelas suas virtudes e sobretudo pela sua caridade.
Para todos que dele se abeiravam tinha uma palavra de conforto, um conselho amigo e uma esmola que minorava muita desgraça.
Foi antigo par do reino, ocupando altos cargos sempre com aprumo, sempre com galhardia, pelo que de todos era venerado e amado.
A sua casa está sempre aberta à pobreza, bem como as casas de caridade e associações de operários perdem no extincto um dos seus mais leais e dedicados amigos.
O finado Conde de Margaride era alguém!
Esmoler como aqueles que verdadeiramente o sabem ser, praticava a doutrina cristã, como manda o Evangelho, sem ostentação, sem vaidade, sem querer agradecimentos que evitava.
Guimarães veste luto, assim como vestem todas as nossas Associações e todos os pobrezinhos pedirão a Deus tenha em Sua Santa Guarda aquele que só soube praticar o bem.
Foi sempre um amigo dedicado do «Commercio de Guimarães» aonde por vezes expandiu o seu talento e fez ouvir os seus conselhos, sempre sábios, justos e aproveitáveis.
Era um bom e um Santo!
Os grandes veneravam-no e os pobres amavam-no como se ama um pai.
Luiz Cardoso Martins da Cotsa Macedo (Conde de Margaride) bacharel formado em Filosofia, filho de Henrique Cardoso de Macedo e de D. Luiza Ludovina d' Araújo Martins, nasceu a 8 de Janeiro de 1836. Foi agraciado com o título de 1º Visconde de Margaride por decreto de 1 de agosto de 1872; título de Conselho de Estado, por decreto de 1 de novembro de 1974; Comendador da Conceição a 14 de Setembro de 1876; 1º Conde de Margaride, a 3 de Março de 1877.
Deixou testamento contemplando diversas Associações Operárias e casas de caridade.
Os seus funerais realizaram-se no dia 1 de Agosto de 1919 na igreja de S. Domingos".

"O cadáver do extincto, encerrado num modesto ataúde, sem uma ostentação ou luxo que denotasse a posição do finado, sem uma flor, sem nada, apenas rodeado de seus numerosos caseiros e grande número de pobres, assim se conservou na vasta e sumptuosa igreja de S. Domingos, até serem celebradas missas gerais e os responsos fúnebres respectivos.
Por expressa determinação do finado, os funerais foram o mais modestos possíveis, não havendo convites especiais.
Apesar dessa determinação que rigorosamente foi cumprida, a igreja que é espaçosa encheu-se por completo.
"Impossível é enumerar as Associações ou colectividades que ali vimos, mas parece-nos poder afirmar que todas as associações de Guimarães , religiosas e civis, ali vimos representadas, com os seus estandartes, cobertos de luto, e largamente representadas".

 


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